Comentando os 10 filmes de Godard que o Telecine Cult exibiu nos 90 anos do cineasta!
Comentando os 10 filmes de Godard que o Telecine Cult exibiu nos 90 anos do cineasta! - Marcos Doniseti!
Comentando os 10 filmes de Godard que serão exibidos pelo Telecine Cult nos 90 anos do cineasta!
O canal pago Telecine Cult irá exibir 10 filmes dirigidos por Jean-Luc Godard no aniversário de 90 anos do cineasta!
O franco-suíço Jean-Luc Godard, que é, inegavelmente, um dos cineastas mais relevantes, vanguardistas e revolucionários da história, e que ainda está na ativa, irá completar 90 anos neste dia 03/12/2020.
O fato concreto é que sem a obra de Godard grande parte dos cineastas atuais estaria em sérias dificuldades. Quentin Tarantino que o diga, pois até o nome da produtora dele (Band à Part) seria outro.
É impossível superestimar a influência de Godard sobre inúmeros cineastas, de várias gerações. E como disseram Philippe Garrel e Bertolucci, em 1967-1968, Godard era quem iluminava o caminho para os outros cineastas.
E quem não se lembra, por exemplo, da antológica cena de dança de Uma Thurman (a Mia Wallace), sozinha, ao som de "Girl, you'll be a woman soon", em 'Pulp Fiction' (1994)? Ela é uma clara referência à cena da dança de Nana, a personagem de Anna Karina em 'Viver a Vida' (1962; ver o vídeo abaixo).
Inúmeros cineastas já citaram e homenagearam Godard, remetendo a cenas e situações dos seus filmes e fazendo referências sem fim à obra do grande mestre franco-suíço.
Nessa relação podemos citar, além do óbvio nome de Tarantino, alguns dos principais cineastas da história, tais como Fassbinder, que assistiu 'Viver a Vida' 27 vezes e trabalhou com Anna Karina em seu filme 'Roleta Chinesa' (1976), e também nomes como os de Bertolucci, Scorsese e Kieslowski.
O genial cineasta polonês Kieslowski, por exemplo, citou Godard quando mostrou um grande cartaz publicitário do filme 'Le Mépris' ('O Desprezo', 1963) em seu clássico 'A Igualdade é Branca' (1994), o que acontece na cena em que o Karol Karol mostra para o seu novo amigo, Mikolaj, onde vive a sua belíssima ex-esposa, Dominique (interpretada por Julie Delpy).
Logo, é justamente em função da inegável importância da obra de Godard é que o canal pago Telecine Cult exibirá 10 filmes consecutivos do cineasta nestes dias 02 e 03, quarta e quinta-feira.
Os filmes que serão exibidos fazem parte das várias fases da carreira de Godard, um cineasta que se reinventou radicalmente em vários momentos da sua trajetória.
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Godard beijando a mão de Brigitte Bardot, na época das filmagens de 'Le Mépris' (O Desprezo; 1963), uma das várias obras-primas do cineasta franco-suíço. |
As fases da carreira de Godard são cinco:
1 - Nouvelle Vague: Começa com 'À Bout de Souffle' ('Acossado'; 1959) e vai até 'Weekend' (1967), sendo o período de maior influência e popularidade e no qual Godard trabalhou com vários gêneros: drama, político, romance, policial, comédia musical, aventura, ficção científica.
2 - Período Maoísta: Começa com 'Sympathy for the Devil'/'One Plus One' (1968), que é um filme no qual Godard reflete sobre qual o rumo a seguir em sua carreira, e termina com 'Letter to Jane' (1972), que foi o último a ser realizado com Jean-Pierre Gorin;
3 - Pesquisas com Vídeo e TV: Período que vai de 1975 a 1977, quando Godard trabalhou junto com Anne-Marie Miéville na realização de várias produções para Cinema e TV, incluindo duas séries.
Neste período, Godard faz uma reflexão e uma autocrítica sobre a fase anterior. Anne-Marie Miéville terá uma atuação importante ao seu lado, ajudando-o a compreender porque os seus objetivos não haviam sido alcançados.
4 - Período Tardio: Começa com a realização de 'Sauve qui peut (la vie), de 1979-1980, que foi o filme que colocou os filmes de Godard novamente no circuito comercial e nos festivais.
Em 1983, inclusive, ele ganhou o Leão de Ouro no Festival de Veneza com o belo filme policial B 'Prénom Carmen' (1983), no qual revelou uma nova e talentosa atriz, que foi a belíssima holandesa Maruschka Detmers.
Este período dura até o "Éloge de l'Amour', de 2001, e durante o mesmo Godard também realizou inúmeros curtas-metragens, filmes para TV, documentários e uma brilhante série para a TV, que foi a monumental "Histoire (s) du Cinéma", que inclui 2 episódios exibidos em 1989 e outros 6 que foram exibidos em 1999.
5 - Filmes-Ensaio: Esse período começou a partir do 'Notre Musique' (2004) e dura até os dias atuais, incluindo ainda o 'Film Socialisme' (2010), 'Adieu au Langage' (2014) e o mais recente "Le Livre D'Image" (2018). É verdade que Godard já havia dirigido filmes-ensaio anteriormente, com o '2 ou 3 Coisas Que Eu Sei Sobre Ela' (1966), mas no período atual este se tornou o seu gênero dominante.
Este é um período da carreira de Godard do qual não teremos nenhum filme exibido pelo Telecine Cult nessa Mostra, junto com o período de pesquisa com TV e Vídeo.
Assim, teremos a exibição de 6 filmes da fase mais famosa e popular, que é a dos anos 1960, do período da Nouvelle Vague (1959-1967): Le Petit Soldat (1960); Une Femme est Une Femme (1961); Une Femme Mariée (1964); Bande à Part (1964); A Chinesa (1967) e Weekend (1967).
Também serão exibidos 3 filmes da fase da retomada da sua carreira como um cineasta um pouco mais convencional, chamada de 'Período Tardio' (1980 até o ano 2000), que são: 'Sauve qui peut (la vie), de 1980; 'Passion' (1982) e 'Je Vous Salue, Marie' (1985).
Também teremos a exibição de um filme da fase Maoísta (1968-1972), quando Godard integrou o Grupo Dziga Vertov, que é o 'Tout va Bien' (Tudo Vai Bem; 1972), que foi realizado em colaboração com Jean-Pierre Gorin e que conta com a participação de Jane Fonda e de Yves Montand.
Godard sempre foi, e continua sendo, um cineasta autoral e que sempre fez aquilo que desejava fazer, independente dos seus filmes ser do agrado ou não da indústria cinematográfica, da crítica especializada ou mesmo do grande público.
Godard sempre entrou em conflito com os produtores de seus filmes, que o pressionavam para que realizasse filmes mais comerciais, que visassem apenas o lucro. Esses conflitos ficaram nítidos e foram mostrados por Godard em vários filmes, tais como em 'Le Mépris' (1963), 'King Lear' (1987) e no 'For Ever Mozart' (1996).
E mesmo com a exibição destes 10 filmes, pelo Telecine Cult, ainda assim vários clássicos da autoria de Godard ficaram de fora.
Entre estes filmes nós temos o revolucionário 'Acossado' (1959), o ousado 'Viver a Vida' (1962), o belíssimo e sensual 'Le Mépris' ('O Desprezo', 1963)', a sci-fi inovadora e surrealista 'Alphaville' (1965), o impactante, rimbaudiano e libertário 'Pierrot le fou' (1965), o jovem, pop, político e bem humorado 'Masculino e Feminino' (1966) e o policial Noir pop 'Prénom Carmen' (1983), que conquistou o Leão de Ouro no Festival de Veneza de 1983.
Nessa Mostra de Godard do Telecine Cult entendo que faltou apenas incluir um filme do período de experiências com vídeo, quando Godard trabalhou com Anne-Marie Miéville, que poderia ser o 'Numéro Deux' (1975), e outro da fase de Filmes-Ensaio, mais recentes, do século XXI, que poderia ser o 'Notre Musique' (2004) ou o 'Adieu au Langage' (2014).
Mesmo assim, essa Mostra de filmes de Godard no Telecine Cult é bastante representativa da sua trajetória e merece ser apreciada.
Abaixo eu comento cada um dos 10 filmes que serão exibidos, a partir do dia 02/12:
1 - Le Petit Soldat (O Pequeno Soldado; 1960)!
Este foi o segundo filme que Godard dirigiu, sendo que as filmagens foram realizadas em Fevereiro e Março de 1960, mas que acabou sendo censurado pelo governo francês, pois o mesmo tratava da Guerra da Argélia (1954-1962), que gerou uma gravíssima crise política e social na França. O filme somente foi liberado para exibição em Março de 1963, três anos após a sua conclusão e um ano depois que a Guerra havia acabado.
O filme foi liberado para exibição apenas em Março de 1963, um ano depois que a Guerra da Argélia havia terminado e que acabou com a conquista da independência pelos argelinos.
A história do filme se desenvolve em Genebra, em Maio de 1958, cidade na qual atuam inúmeros movimentos políticos e serviços secretos, de vários países, e gira em torno de um jovem integrante (Bruno Forestier, interpretado por Michel Subor) de um movimento terrorista de Extrema-Direita chamado 'Departamento Francês de Informação'.
Bruno é um fotógrafo que enfrenta uma crise ideológica e que conhece uma bela jovem, Veronica Dreyer (Anna Karina, em seu primeiro filme com Godard), que apoia a luta da FLN argelina, fato que ele desconhece no início. Bruno e Veronica acabam se apaixonando.
O DFI usa uma fachada de agência de notícias para as suas atividades violentas, como a de assassinar pessoas que apoiam as lutas dos argelinos que são lideradas pela FLN (Frente de Libertação Nacional).
Porém, Bruno está vivendo uma situação de crise pessoal. Ele é um francês que desertou do Exército, pois não quis lutar na Indochina francesa e fugiu para a Suíça. Aliás, Godard fez a mesma coisa e, para não ser preso, foi viver com o seu pai (Paul Godard, um médico) quando o mesmo foi trabalhar na América Central.
Godard aproveitou a situação para viajar pela América Latina, visitando vários países, incluindo o Brasil, e retornando para a França em 1955, quando a Guerra da Indochina (1947-1954) já havia terminado.
No filme também temos um diálogo no qual Godard homenageia e faz uma referência direta a 'Johnny Guitar' (Nicholas Ray; 1954), quando Bruno e Veronica conversam ao telefono e o mesmo pede para que ela repita uma série de frases e que são muito semelhantes ao diálogo que temos em 'Johnny Guitar' entre os personagens de Sterling Hayden (Johnny Guitar) e Joan Crawford (Vienna).
Estas homenagens e referências de Godard aos seus cineastas e filmes preferidos tornaram-se uma marca registrada da sua obra e, depois, foi copiada por inúmeros outros cineastas, como Scorsese, Tarantino...
O jovem Bruno também não acredita mais na causa da DFI e quer abandonar a organização, mas é ameaçado pelos líderes do movimento, que o pressionam para que ele mate um radialista suíço (Paloveda) que apoia a luta dos argelinos. A DFI chega a sequestrar Veronica para forçar Bruno a cometer o assassinato.
Bruno tenta fugir dessa missão e acaba sendo descoberto por membros da FLN que o capturam e o submetem à sessões de torturas. No filme, as torturas e execuções praticadas pelos franceses na Guerra da Argélia (1954-1962) também são denunciadas e Godard prevê que os franceses serão derrotados na guerra, fato que acabou se confirmando. Tudo isso foi decisivo para que o filme fosse censurado.
O filme contém belas imagens da Genebra de 1960 e mostra o quanto a sociedade de consumo e motorizada já era uma realidade nas partes capitalistas mais ricas da Europa Central e Ocidental.
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Jean-Claude Brialy, Anna Karina e Jean-Paul Belmondo em 'Une Femme est Une Femme' (1961). Este foi terceiro filme de Godard e foi feito para Anna Karina pudesse brilhar. |
2 - Une Femme est Une Femme (Uma Mulher é Uma Mulher; 1961)!
Este foi o segundo filme de Godard a ser exibido, embora tenha sido realizado depois de 'Acossado' (1959) e 'Le Petit Soldat' (1960). Porém, este último foi censurado por tratar da Guerra da Argélia e foi liberado para exibição apenas em Março de 1963,
Então, 'Uma Mulher é Uma Mulher' é o terceiro longa-metragem de Godard. O filme é uma comédia musical que homenageia os inúmeros filmes desse gênero que Hollywood produziu ao longo de sua história.
A trama do filme gira em torno de uma mulher (Angela, interpretada por Anna Karina) que deseja ter um filho, mas isso é rejeitado por seu noivo Émile Récamier (Jean-Claude Brialy). Ela trabalha como dançarina numa boate durante o dia e ambos vivem em um pequeno apartamento, no qual ele ouve jogos de futebol, enquanto comem o trivial.
E ainda temos um personagem chamado Alfred Lubitsch, interpretado por Jean-Paul Belmondo, e cujo nome é uma referência ao cineasta alemão Ernst Lubitsch, que dirigiu inúmeras comédias musicais de sucesso em Hollywood durante muitos anos, incluindo 'The Love Parade' (1929) e 'Monte Carlo' (1930).
Alfred vive dando pequenos golpes, como a de não pagar contas em hotéis nos quais se hospeda e também é apaixonado por Angela, que lhe pede que a engravide, e ele acaba concordando. E daí surgem conflitos e situações irônicas envolvendo Angela, Émile e Alfred em torno do assunto.
Também temos pequenas participações de Jeanne Moreau e de Marie Dubois, que fazem referências a dois filmes de Truffaut, que são 'Jules et Jim' (1962) e 'Atirem no Pianista' (1960), respectivamente. Elas participaram do filme como uma maneira de Godard ajudar a divulgar os dois filmes de Truffaut, algo que era comum naquela época, quando os cineastas da Nouvelle Vague se ajudavam bastante.
Este filme foi realizado por Godard sob medida para que Anna Karina pudesse brilhar e também foi o primeiro filme colorido do cineasta francês. O filme tem um tom bastante leve e nele Godard faz um belo uso da trilha sonora, promovendo inúmeros jump cuts na mesma. Se em 'Acossado' (1959) os jump cuts foram usados nas imagens, neste filme isso foi feito com a trilha sonora.
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Cena antológica de 'Bande à Part', na qual Claude Brasseur, Anna Karina e Sam Frey dançam em um bar. |
3 - Bande à Part (1964)!
Este é um dos filmes mais populares de Godard, sendo que o mesmo conta com várias cenas antológicas, como a do trio de protagonistas dançando no bar e aquela em que eles correm pelo Museu do Louvre, sendo que no caso desta última nós tivemos uma refilmagem feita por Bertolucci em seu 'Os Sonhadores' (2003).
A história do filme se desenvolve em torno de um trio, que é formado por dois amigos, Arthur e Franz, que conhecem uma jovem empregada (Odile) que trabalha em uma casa de família que tem muito dinheiro guardado dentro da residência.
Os dois a convencem a ajudá-los a roubar esse dinheiro, embora ela resista bastante neste sentido, hesitando em participar da ação. Arthur e Franz são dois jovens marginalizados, que não conseguem emprego e vivem destes pequenos golpes.
Eles também se apaixonam por Odile e disputam o amor da jovem. Em um primeiro momento, ela se envolve com Arthur, mas a forma grosseira com que ele a trata faz com que passe a se envolver com Franz.
A bela fotografia do filme, a história simples e envolvente, cenas antológicas, as referências literárias e cinematográficas (T. S. Elliot, Shakespeare, Filmes Policiais B de Hollywood, Western) fazem deste um filme muito leve e é um dos preferidos dos cinéfilos que apreciam a obra de Godard. E o seu título ainda foi usado por Tarantino para dar nome à sua produtora.
E o final do filme ainda faz uma espécie de 'gancho' com o belíssimo 'Pierrot le fou' (1965).
4 - Une Femme Mariée (Uma Mulher Casada; 1964)!
Este é um belo e um tanto quanto subestimado e esquecido filme de Godard, o que é muito injusto.
A trama do filme se desenvolve em torno de uma bela e jovem mulher casada, Charlotte (interpretada pela belíssima Macha Méril), que possui um amante (Robert, um ator de teatro) e que está em dúvidas se deveria pedir o divórcio ou, o contrário, se o mais correto a fazer seria terminar o seu relacionamento com ele e preservar o seu casamento com Pierre, um piloto de aviões.
Um outro motivo que leva Charlotte a hesitar a respeito de qual decisão deveria tomar é que ela engravidou, mas não sabe qual deles é o pai, pois tinha relações sexuais com ambos. O filme foi o primeiro que tratou do uso de métodos anticoncepcionais.
Em muitos momentos do filme nós vemos o corpo de Charlotte nu, na cama, mas de maneira fria, sendo que Godard prefere mostrar apenas algumas partes do seu corpo de cada vez, nunca mostrando o corpo inteiro. Ele mostra as mãos, as coxas, os joelhos, como a sugerir uma mulher fragmentada e dividida em seus sentimentos.
O filme conta com uma fotografia maravilhosa, em um belíssimo tom de branco, e também reflete criticamente sobre a importância da memória histórica, pois a personagem Charlotte é extremamente influenciada pela indústria cultural e se preocupa apenas em viver o momento presente, ignorando o passado e não se preocupando com o futuro.
Também vemos Godard mostrar que a juventude da época já adotava um comportamento sexual mais liberal e temos a execução de uma música de Sylvie Vartan, uma das principais cantoras francesas do período, que é 'Quand le film est triste' (Quando o filme é triste).
O filme conta com elementos autobiográficos, pois a história de Charlotte remete a um romance de Anna Karina com um outro ator francês (Maurice Ronet) na época das filmagens. Em função deste relacionamento Anna Karina decidiu pedir o divórcio e se separou de Godard em Dezembro de 1964.
Essa história do romance de Anna Karina com Maurice Ronet explica muito bem, portanto, a escolha da música de Sylvie Vartan ('Quando o filme é triste') por Godard. A própria Macha Méril, inclusive, confirmou, posteriormente, que ela sabia que a sua personagem tinha sido criada, por Godard, com base em Anna Karina.
Aliás, e tal como aconteceu com Anne Wiazemsky, Macha Méril também se tornou uma escritora de sucesso posteriormente e chegou a escrever um livro sobre o seu trabalho com Godard neste belíssimo filme.
5 - La Chinoise (A Chinesa; 1967)!
Godard conseguiu, com este filme, antecipar os acontecimentos do Maio de 68 francês, bem como também apontar criticamente quais eram os equívocos e limitações das lutas da juventude maoísta francesa.
Estes jovens maoístas começaram a se tornar assunto da mídia francesa já em 1966, sendo que a música tema (Mao Mao), que foi composta e gravada por Claude Channes, tinha feito o maior sucesso na França naquele ano.
Godard, como sempre, vivia antenado com as mudanças que estavam acontecendo na França e na civilização ocidental neste período e acabou se interessando pelo tema. Para isso, ele pesquisou muito sobre o assunto e contou com a ajuda de Jean-Pierre Gorin, jovem crítico e intelectual maoísta que colaborava com o 'Le Monde'.
Gorin passará a exercer uma crescente influência sobre Godard e, em 1968, os dois fundaram o Grupo Dziga Vertov e passaram a fazer filmes políticos, que estavam em voga na época, mas realizando os mesmos politicamente.
Assim, no Grupo Dziga Vertov, desde a concepção inicial do filme, até a sua exibição, tudo estaria submetido à realização de um projeto de transformação revolucionária da sociedade, rompendo com a forma tradicional de se escrever, produzir, distribuir e exibir filmes. Da elaboração do roteiro até a finalização tudo seria fruto de um processo de criação coletiva.
Foi durante as filmagens de 'La Chinoise' que Godard e Anne Wiazemsky trabalharam juntos pela primeira vez e começaram o seu relacionamento, que iria durar cerca de 5 anos.
E no filme Godard também faz uma homenagem e cita uma cena de um clássico do Filme Noir, que é 'Double Indemnity' (Pacto de Sangue; 1944), dirigido por Billy Wilder.
Na cena de 'A Chinesa' (1967), a Veronique (Anne Wiazemsky) grita para que Guillaume (Jean-Pierre Léaud) atenda ao telefone que está tocando há bastante tempo, mas ele não o faz, sendo que em 'Pacto de Sangue' (1944) temos uma cena muito semelhante, quando a Phyllis Dietrichson (interpretada por Barbara Stanwick) também grita com a empregada para que ela atenda ao telefone, mas isso também não acontece.
A história do filme gira em torno de um grupo de estudantes universitários maoístas (é claro...) que, durante as férias de verão, vão para um apartamento onde debatem e expõem as suas ideias e interpretações sobre Marxismo, Leninismo e Maoísmo, em especial.
O jovem coletivo maoísta é formado por Veronique (Anne Wiazemsky), Guillaume (JP Léaud), Yvonne (Juliet Berto), Kirilov (Lex De Bruijn), Henri (Michel Semeniako) e Omar (Omar Diop). Em seus debates e seminários criticam duramente tanto a URSS, quanto os EUA, repudiando as duas grandes potências da época.
Os EUA eram criticados pelo seu caráter Imperialista e a URSS porque a mesma teria passado a priorizar a chamada 'Coexistência Pacífica' com os EUA, abrindo mão de lutar contra o Capitalismo hegemônico.
Assim, Godard mostra que os jovens da época não se sentiam atraídos nem pelo Capitalismo ocidental e nem pelo Socialismo soviético, o que era uma característica fundamental da chamada 'Nova Esquerda' da época, que considerava os dois modelos como sendo burocratizados, ultrapassados e autoritários.
Godard mostra como as divergências entre eles acaba resultando na expulsão de um dos seus integrantes (Henri) e, assim, ele critica o caráter isolacionista e sectário de sua estratégia, que abria mão de um maior envolvimento com a chamada 'Luta de Massas'.
Desta maneira, em uma cena que se desenvolve em um trem, temos um belo e riquíssimo debate entre a jovem maoísta Veronique e o respeitado intelectual Francis Jeanson.
Jeanson tenta mostrar para a jovem revolucionária Veronique que usar da violência revolucionária somente se justificaria se os jovens maoístas tivessem um grande respaldo popular para isso, tal como aconteceu na Argélia (com a FLN) e também ocorria no Vietnã (com os Vietcongs).
Desta maneira, Godard antecipou a decadência dos Partidos Comunistas tradicionais (francês, italiano...), que perderam influência junto às novas gerações mas, ao mesmo tempo, deixou claro que as lutas destes jovens revolucionários somente teriam chances de triunfar se as mesmas conquistassem maciço respaldo popular, ou seja, da classe trabalhadora.
6 - Weekend (1967)!
Este é, na modesta opinião deste admirador do trabalho genial de Godard, o seu melhor filme da sua época áurea, mais popular e influente, que foi a do período 'Nouvelle Vague' (1959-1967).
'Weekend' é o filme que sintetiza toda a obra de Godard que, desde 'Acossado' (1959), já mostrava uma visão crítica sobre a sociedade de consumo, a indústria cultural e o conservadorismo dominante dos valores e costumes na mesma.
O filme faz uma grande crítica a toda a civilização industrial e consumista que se tornou hegemônica na Europa Ocidental, EUA-Canadá, Oceania e em algumas regiões da América Latina. Godard deixa claro que essa civilização baseada em consumismo desenfreado é altamente destrutiva, promovendo a devastação da natureza.
Godard também mostra que as relações sociais se tornam cruéis, caracterizadas pela ganância e pelo egoísmo, em uma sociedade marcada pelo estímulo ao consumismo e pela posse cada vez maior de riquezas e bens materiais.
Isso é mostrado por meio de um casal da pequena burguesia parisiense, Corinne e Roland, que deseja se apropriar de uma parte da herança da mãe de Corinne e que, para conseguir isso, eles não medem esforços, chegando a matar para atingir o seu objetivo.
Além disso, os dois traem o (a) parceiro (a) com outras pessoas e planejam se livrar um do outro quando estiverem de posse da herança da mãe de Corinne. Para isso, eles precisam viajar até uma pequena localidade (Oinville) do interior onde a mãe de Corinne reside.
A viagem é caótica, com o casal enfrentando um gigantesco engarrafamento na rodovia (ideia que Godard tirou do conto 'A Autoestrada do Sul', de Julio Cortázar), acabam se encontrando com inúmeras pessoas acidentadas (em um belíssimo plano-sequência de cerca de 9 minutos), mortas, pessoas que se comportam como personagens literários, assassinos, magos e, por fim, eles se deparam um grupo de guerrilheiros canibais que vivem isolados em uma mata.
O filme mostra um verdadeiro festival de 'maluquices' tipicamente surrealistas e que não esconde a influência de Luis Buñuel. E o filme também conta com uma belíssima trilha sonora, de autoria de Antoine Duhamel, principalmente na cena de abertura, em que Corinne conta, para o seu amante, uma aventura amorosa que ela teve com um outro casal. Sua história faz uma clara referência a um livro de Georges Bataille, que é 'História do Olho'.
E como sempre Godard mistura a cultura Pop (quando Jean-Pierre Léaud canta 'Allo, tu m'entends' em uma cabine telefônica, por exemplo) com a Erudita, quando vemos um concerto com música de Mozart ao ar livre, que é mostrado em outro belíssimo plano-sequência.
Obs: A música que Léaud canta é de autoria de Guy Béart, pai de Emmanuelle. E a mãe dela é Geneviève Galéa, que atuou em 'Les Carabiniers' (1963), outro filme de Godard.
Godard também usa da ironia para mostrar que aquilo que estamos vendo é um filme, como na cena em que Corinne diz algo como 'que filme porcaria, só tem maluco'.
'Weekend' é o filme perfeito para se colocar em uma nave espacial e enviar para outras galáxias a fim de mostrar para os alienígenas qual é o tipo de civilização que temos na Terra, com todos os elementos principais desta presentes no filme, mostrando a história da humanidade como uma sucessão de acontecimentos violentos e cuja civilização caminha rapidamente para o fim.
E no fim Godard mostra que essa civilização destrói a nossa condição de seres humanos e devasta o planeta e que, como resultado final, nos levará de volta a um estágio pré-civilizatório.
Após o fim da produção o próprio Godard anunciou para a equipe de técnicos e profissionais, que sempre trabalhava com ele, que aquele seria o seu último filme e que eles estavam dispensados para trabalhar com outros cineastas pois, para ele, o Cinema estava morto e acabado.
Fim da história. Fim do Cinema.
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Cena de 'Tout va Bien' (Tudo vai Bem; 1972). Este foi o penúltimo filme que foi resultado da colaboração entre Godard e Gorin e o mesmo contou com a participação de Jane Fonda e Yves Montand. |
7 - Tout va Bien (Tudo vai Bem; 1972)!
Este foi o penúltimo filme que Godard e Jean-Pierre Gorin realizaram juntos, entre Fevereiro e Março de 1972. Alguns meses depois eles fariam o último filme em regime de colaboração, que foi 'Letter to Jane'.
Godard e Gorin se conheceram na época das filmagens de 'A Chinesa', com o jovem crítico e intelectual maoísta, que trabalhava para o 'Le Monde' como crítico de cultura, sendo um consultor de Godard. Nos dois anos seguintes eles se aproximaram ainda mais e Gorin passou a exercer uma grande e crescente influência sobre Godard. Depois, eles decidiram começar a trabalhar juntos.
Desta maneira, em 1968, eles criaram o Grupo Dziga Vertov, uma unidade de produção independente que tentava 'fazer filmes políticos politicamente', por meio de criação coletiva no momento de se elaborar o roteiro, produzir, dirigir e atuar. O GDV também procurou manter o controle sobre a distribuição e exibição dos filmes.
Mas isso nunca funcionou e, no fim das contas, Godard e Gorin tiveram que assumir o controle de tudo, pois os inúmeros integrantes do GDV nunca conseguiram se entender sobre os filmes que deveriam ser realizados, até em função do mesmo ser formado por membros de vários grupos esquerdistas, incluindo maoístas (Godard, Gorin), anarquistas libertários (Cohn-Bendit) e comunistas tradicionais (Gian Maria Volonté).
Tanta diversidade ideológica fez com que ocorressem muitos conflitos no Grupo Dziga Vertov e, com isso, Godard e Gorin decidiram assumir o controle de tudo e passar a realizar os filmes juntos.
Godard e Gorin fizeram 6 filmes nesse período, de 1968 a 1972, que foram:
- 'Vento do Leste' (1970), que teve uma pequena participação de Glauber Rocha;
- 'Até a Vitória' (1970), que ficou inacabado, sendo que alguns trechos do filme foram usados em 'Aqui e em Qualquer Lugar' (1976), de Godard e Anne-Marie Miéville;
- 'Vladimir e Rosa' (1971), que trata do julgamento dos chamados 'Sete de Chicado';
- 'Lutas Ideológicas na Itália' (1971), que mostra uma jovem esquerdista italiana que faz uma longa autocrítica sobre a sua militância no 'Lotta Continua', grupo de Extrema-Esquerda italiano. O filme foi baseado em um livro de Althusser, o 'Aparelhos Ideológicos de Estado'.
- 'Tout va Bien' (1972), filme que contou com a participação de Jane Fonda e de Yves Montand, dois dos atores mais politizados da época;
- 'Letter to Jane' (1972), filme no qual Godard e Gorin analisam criticamente uma matéria jornalística, feita pela revista semanal francesa "L'Express" (direitista), uma fotografia em especial, sobre uma viagem de Jane Fonda ao Vietnã do Norte em 1972.
A história de 'Tout va Bien' gira em torno de uma greve de operários de uma indústria de laticínios e que se rebelam contra a direção do Sindicato (ligado à CGT, maior central sindical francesa e que era controlada pelo Partido Comunista). Os operários assumem o controle da indústria e mantém o dono preso em seu escritório.
Dois intelectuais esquerdistas, uma jornalista dos EUA, Suzanne (que é interpretada por Jane Fonda), e um cineasta (Jacques, interpretado por Yves Montand) que era ligado à Nouvelle Vague, mas que abandonou o Cinema e foi realizar filmes publicitários para a TV.
Jacques e Suzanne são casados, mas o seu relacionamento está em crise, pois ela não aceita mais a maneira antiga deles se relacionarem. Eles vão até a indústria de laticínios fazer uma entrevista com o dono da empresa, mas quando chegam lá descobrem que ela está sob controle dos operários, que também os impedem de sair do local.
Já os diretores do Sindicato, ligado à CGT/PCF, criticam os operários por considerarem que a ação deles é muito radical e prejudica a categoria que negocia melhorias salariais e de condições de trabalho com os patrões. Também vemos cenas de forte repressão policial contra estudantes que, depois do Maio de 68, decidiram continuar as lutas políticas.
No filme, a CGT e o PCF são criticados por adotarem uma postura moderada e, logo, Godard e Gorin assumem claramente a defesa da radicalização das lutas políticas e sociais no país.
O filme resume, desta maneira, a situação política e social da França em 1972, tal como era vista por Godard e Gorin, é claro, e também questiona sobre qual deve ser o papel dos intelectuais durante um processo revolucionário.
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Cena de 'Sauve qui peut (la vie), de 1980, com Jacques Dutronc e Isabelle Huppert. Este filme marcou o retorno de Godard ao circuito comercial e de festivais. |
8 - Sauve qui peut (la vie) - (Salve-se quem puder - a vida; 1980)!
Este foi o filme que colocou Godard novamente no rumo do circuito comercial e dos festivais, mas sem abrir mão do seu estilo incomparável de escrever roteiro, produzir, dirigir e montar.
Para atrair público, garantir espaço nas salas de cinema e nos festivais, Godard também passou a trabalhar com atores e atrizes famosos na França, na Europa e até nos EUA, como foram os casos de Isabelle Huppert (Sauve qui peut - la vie; 1980), Nathalie Baye (Sauve qui peut la vie, de 1980, e Détective, de 1987) e Molly Ringwald ('King Lear'; 1987)
Godard irá, até mesmo, passar a atuar em vários dos seus filmes desta nova fase da sua carreira, como aconteceu em 'Prénom Carmen' (1983), 'King Lear' (1987) e 'Soigne ta Droite' ('Atenção à Direita; 1987), que foi chamada de 'Período Tardio' por Jonathan Rosembaum, um dos críticos que melhor conhece a obra 'godardiana'.
A trama do filme gira em torno de um casal, Paul Godard (nome do pai de Jean-Luc) e Denise Rimbaud (óbvia referência ao grande poeta francês), e cujo relacionamento está em crise. E também temos a presença de Isabelle, que é uma jovem prostituta que tenta fugir ao controle dos cafetões que a exploram, mas ela não consegue e, assim, decidi tentar mudar de vida.
As crises do relacionamento entre homens e mulheres estavam em voga neste momento, devido às mudanças promovidas pela expansão do movimento feminista, que emergiu durante os anos 1960 e que se fortaleceu a partir dos anos 1970. Godard já vinha divulgando a causa feminista desde os seus filmes do período Maoísta (vide 'British Sounds', de 1969, e 'Vladimir e Rosa', de 1970).
O filme já mostra que o Godard que retomava essa carreira mais convencional havia passado por mudanças, se reinventando enquanto cineasta, passando a contar com elementos metafísicos, espirituais e até religiosos que antes não estavam presentes em seu trabalho.
Assim, a cena de abertura do filme mostra imagens da natureza (céu, rios, matas) e não das cidades, como acontecia no período 'Nouvelle Vague' (1959-1967) e os personagens estão mais preocupados com as suas vidas e seus problemas pessoais do que em querer consertar o que está de errado no mundo, tal como ocorria nos filmes do período maoísta, da época do Grupo Dziga Vertov (1968-1972) e até em alguns do período 'Nouvelle Vague' (1959-1967).
Godard também faz referências ao período maoísta e à sua própria história, com a presença de um personagem, um jornalista, chamado Piaget, que herdou o jornal de seu pai e que havia sido um revolucionário nos anos 1960. Piaget reconhece que ele havia perdido essa luta e que, agora, tinha se tornado um pequeno burguês, dono de um pequeno jornal, em uma pequena cidade do interior. E é isso que ele, agora, chamava de Revolução.
Assim, os filmes de Godard irão mesclar as suas sempre presentes preocupações de teor político e social, tão fortes em toda a sua obra e que atingiram o auge na fase maoísta, com esse elemento mais individual, de mostrar o que se passava na vida pessoal e no interior dos personagens.
Neste sentido, chama muito a atenção uma cena de uma relação sexual, que é mais sugerida do que exibida, na qual o dono de uma empresa contrata duas prostitutas (incluindo Isabelle) e, com a ajuda de seu empregado, promove um ato sexual em série, como se o mesmo fosse uma linha de produção que representasse as relações de classe existentes na sociedade Capitalista.
Sexo e Política: Tudo a ver.
Aliás, Godard fez o mesmo, pois ele saiu de Paris e foi morar em Rolle, uma pequena cidade da Suíça, próxima de Genebra, e fundou uma pequena produtora de Cinema, junto com a cineasta Anne-Marie Miéville, que se chama 'SONIMAGE'.
9 - Passion (Paixão; 1982)!
Este é o filme de Godard em que a Pintura, que sempre exerceu uma grande influência sobre a sua obra, esteve mais presente.
Aliás, é bom ressaltar que o jovem Godard pintou inúmeros quadros e sua mãe (Odile Monod) chegou a organizar uma mostra dos quadros do futuro cineasta. A mãe de Godard era de uma família de ricos banqueiros protestantes calvinistas da Suíça francófona que tinha muitos amigos entre intelectuais, teólogos e cientistas.
Desta maneira, Godard e seus irmãos e irmãs tiveram uma rica e sofisticada educação, estudando muito sobre Música Clássica, Pintura, Literatura, História, Filosofia. Isso explica a presença de tantas referências sobre estas formas de conhecimento e de arte nas obras de Godard, pois esta foi a sua formação cultural. Não tem nada a ver com exibicionismo, como alguns imbecis insistem em dizer.
A história do filme gira em torno de um cineasta polonês, que se encontra exilado na França, chamado Jerzy, que é interpretado por Jerzy Radziwilowicz (o Antek de 'Sem Fim', de Kieslowski), que não consegue encontrar a luz ideal para representar obras de pintores como Goya e Rembrandt.
Desta maneira, temos os acontecimentos da Polônia como pano de fundo do filme, o que é uma alusão à Ditadura que havia sido implantada no país no final de Dezembro de 1981, quando a lei marcial adotada pelo general Jaruzelski resultou na prisão de milhares de ativistas do movimento 'Solidariedade', do qual Lech Walesa era o principal líder.
Além disso, Jerzy se envolve romanticamente com várias mulheres, incluindo as belas Hanna (Hanna Schygulla) e Isabelle (Isabelle Huppert). A primeira é uma empresária casada com Michel (Michel Piccoli) e a segunda é uma operária que trabalha em uma indústria e da qual é demitida, por Michel, pelo fato de promover lutas contra as más condições de trabalho e os baixos salários.
E também vemos o diretor Jerzy envolvidos com as dificuldades para conseguir financiar o seu filme, e que é pressionado pelos produtores para que faça um filme que tenha uma história bem simples e que possa ser compreendida pelo público, o que é uma referência ao próprio Godard e suas sempre problemáticas e conflitantes relações com os produtores.
10 - Je Vous Salue, Marie (Eu Vos Saúdo, Maria; 1985)!
Este talvez seja o filme mais polêmico da carreira de Godard. Afinal, de fato, foram poucos aqueles que realmente compreenderam o que o mestre da Nouvelle Vague quis dizer com o mesmo. Aqueles que o atacaram nem assistiram ao filme, com certeza.
A história do filme gira em torno da gravidez de origem divina de Maria, que irá conceber o Filho de Deus. Porém, Godard mostra como este acontecimento poderia se desenvolver em nossa época, ao mesmo tempo em que conta essa história de maneira a mostrar os conflitos entre Corpo X Espírito.
A jovem Myriem Roussel, que havia trabalhado com Godard em 'Passion' (1982) e em 'Prénom Carmen' (1983), interpreta Maria. Ela é uma jovem de 18 anos que joga basquete na escola e que é filha de um proprietário de um posto de gasolina, onde trabalha no seu tempo livre.
Maria é namorada de um jovem motorista de táxi, José, que quando fica sabendo da gravidez da namorada, recusa-se a acreditar que ela ainda seja virgem, embora ela afirme várias vezes que não teve nenhuma relação sexual. Até o médico dela duvida, até que a examina e fica surpreso com o fato dela estar dizendo a verdade.
José, por sua vez, tem uma amante, a bela e jovem Juliette (interpretada por uma bem jovem Juliette Binoche, em início de carreira), embora diga para Maria que esse relacionamento não tem maior importância. E o anjo Gabriel parece mais um capanga da Máfia, que esbofeteia José em vários momentos, devido à recusa do mesmo em acreditar no que Maria afirma. Enfim, os personagens foram modernizados por Godard.
E é bom ressaltar que Godard não desrespeita em nenhum momento a figura de Maria. O que ele faz é procurar mostrar como seria, para uma jovem mulher no mundo atual, ser escolhida para ser a mãe terrena e humana do Filho de Deus e como isso iria afetar essa jovem mulher nos planos físico, emocional e espiritual.
Portanto, toda aquela campanha que se fez contra o filme na época, e que o levou a ser censurado pelo governo de José Sarney, foi uma demonstração de ignorância, estupidez e preconceito (pois quem defendeu a censura o fez sem assistir ao filme, é claro) contra um belíssimo filme.
Imperdível.
Dias e Horários de Exibição dos filmes!
Os filmes que serão exibidos, com os dias e horários dos mesmos, são os seguintes:
1 - Passion (Paixão; 1982); 02/12; 11h35;
2 - Je Vous Salue, Marie (Eu Vos Saúdo, Maria; 1985); 02/12; 13h15;
3 - Une Femme Mariée (Uma Mulher Casada; 1964); 02/12; 15h15;
4 - La Chinoise (A Chinesa; 1967); 02/12; 17hs;
5 - Le Petit Soldat (O Pequeno Soldado; 1960); 02/12; 18h45;
6 - Une Femme est Une Femme (Uma Mulher é Uma Mulher; 1961); 02/12; 20h25;
7 - Bande à Part (1964); 02/12; 22hs;
8 - Weekend (1968); 02/12; 23h45;
9 - Tout va Bien (Tudo vai Bem; 1972); 03/12; 01h40;
10 - Sauve que peut (la vie) - (Salve-se quem puder - a vida; 1980); 03/12; 03h25.
Links:
Jean-Pierre Léaud cantando 'Allo, tu m'entends' em 'Weekend' (1967):
(27) Week End (1967) - Allo, tu m'entends - YouTube
Sylvie Vartan cantando 'Quand le film est triste':
(25) Quand le film est triste, Sylvie Vartan - YouTube
A Nouvelle Vague e Godard:
A Nouvelle Vague aos olhos da vida e da obra de Jean-Luc Godard – Comunidade Cultura e Arte
Música 'Mao Mao', de Claude Channes:
(19) CLAUDE CHANNES - Mao-Mao (1967) - YouTube
Vídeo - Dança de Nana em 'Vivre sa vie' (1962) e de Mia Wallace em 'Pulp Fiction' (1994):
Vídeo (legendas em português): Cineastas como Scorsese e Tarantino comentam sobre as inovações de Godard e da Nouvelle Vague:
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