Comentando 6 grandes filmes de Luis Buñuel!
Comentando 6 grandes filmes de Luis Buñuel! - Marcos Doniseti!
Durante um dia inteiro o canal pago Telecine Cult exibiu 6 filmes de um dos mais importantes e inovadores cineastas da história, que é o espanhol Luis Buñuel (1900-1983). E vou comentar os mesmos.
Buñuel nasceu em 1900, na aldeia de Calanda, em Aragão, região da Espanha, e era membro de uma família de origem aristocrática, abastada, que o colocou em um colégio de jesuítas, de onde vem a sua formação e os seus conhecimento sobre Religião.
Posteriormente, ele se tornou anticlerical e ateu, desenvolvendo um forte senso crítico em relação à Igreja Católica e, também, com relação à Religião, o que é bastante evidente em seus filmes.
Buñuel também era um crítico ferrenho do secular autoritarismo espanhol, fazendo duras críticas à Ditadura Franquista. Bunuel foi integrante da chamada 'Geração de 1927', junto com Salvador Dalí, Federico García Lorca e muitos outros.
Uma grande parte da sua produção foi realizada no México, onde dirigiu mais de 20 filmes, devido ao exílio imposto pela Ditadura Franquista (1939-1975).
Posteriormente, Buñuel chegou a realizar alguns filmes na Espanha ('Viridiana' e 'Tristana', por exemplo). Porém, ele sempre enfrentava sérios problemas com a censura. Desta maneira, a maioria dos seus filmes da fase pós-México foi realizada na França, como foram os casos de 'A Bela da Tarde' e 'A Via Láctea'.
Os filmes que foram exibidos, pelo Telecine Cult, são os seguintes:
1 - A Morte no Jardim (1956)!
'A Morte no Jardim' (1956). |
A história do filme, que se desenvolve na Guiana Francesa, gira em torno de um grupo de trabalhadores de uma mina que se rebela depois que um governo ditatorial decidiu assumir o controle da mesma, ficando com toda a produção para ele.
Após a rebelião, que é duramente reprimida pelo governo, um pequeno grupo consegue fugir, para uma floresta, sendo que o mesmo é formado por um aventureiro (e sua filha que é surda e muda), um explorador, uma prostituta, um padre, um missionário, um soldado e um bandido, que terão que colaborar entre si para sobreviver até que chegassem à um local seguro.
É claro que a história do filme se refere à Ditadura Franquista da Espanha (1939-1975), da qual Buñuel sempre foi um grande crítico.
2 - A Via Láctea (1969)!
'A Via Láctea' (1969). |
Este é um filme da última fase da carreira de Buñuel, quando ele realizou os seus filmes na França, desfrutando de ótimas condições de trabalho e com plena liberdade criativa.
Assim, não foi à toa que Buñuel realizou as suas principais obras-primas justamente nesta fase, sendo que este 'A Via Láctea' é uma delas, ao lado de outras como 'A Bela da Tarde' e 'O Discreto Charme da Burguesia', que também serão exibidos pelo Telecine Cult.
A história mostra dois peregrinos, Pierre e Jean (interpretados, respectivamente, por Paul Frankeur e Laurent Terzieff) que saem da França e percorrem o Caminho de São Tiago de Compostela, na Espanha.
Durante essa longa caminhada eles encontram os mais variados tipos e também viajam rumo ao passado, no qual vemos Cristo, a Virgem Maria, cavaleiros e nobres medievais, entre outros. No filme, Buñuel, que conhecia profundamente teologia, debate vários dos principais dogmas católicos, como a Santíssima Trindade.
3 - Tristana (1970)!
'Tristana' (1970). |
A mãe da jovem e bela Tristana (Catherine Deneuve) morre e, com isso, ela passa a viver na residência de um aristocrata decadente, Don Lope, que se comprometera a cuidar da mesma.
Don Lope está enfrentando graves dificuldades financeiras e vende o patrimônio da casa (obras de arte, porcelanas, etc) para conseguir pagar as contas. Os móveis da casa, mal cuidada, também são velhos. Mesmo assim Don Lope mantém-se fiel aos valores da Aristocracia e recusa-se a trabalhar.
Com o tempo, Don Lope (interpretado brilhantemente por Fernando Rey) se apaixona por Tristana e eles passam a viver como marido e mulher, embora não sejam casados (o que somente irá acontecer posteriormente), pois Don Lope rejeitava a instituição do casamento e repudiava a Religião e a Igreja Católica.
Don Lope também reprime Tristana, não permitindo sequer que ela saia de sua residência, a não ser que seja acompanhada da empregada, Saturna. Mas, em um destes passeios, Tristana toma um rumo diferente e, assim, acaba conhecendo Horacio (Franco Nero), um jovem pintor, sendo que eles acabam se apaixonando.
Assim, ela acaba por abandonar Don Lope. Este, por sua vez, irá passar por uma grande melhoria nas suas condições de vida depois que herdou uma parte da riqueza da sua falecida irmã, uma católica fervorosa com a qual ele tinha um péssimo relacionamento.
Por meio dessa história, Buñuel faz duras críticas à Igreja Católica, à Ditadura Franquista e à Aristocracia (classe à qual a sua família pertencia), conseguindo fazer isso mesmo com o filme sendo filmado na Espanha.
E isso aconteceu mesmo om o roteiro tendo que passar pela censura franquista. Assim ou o censor era muito burro e não entendeu nada da história ou ele entendeu e deixou passar todas essas críticas pois também estava revoltado com a Ditadura de Franco, que chegaria ao fim em 1975, com a morte do sanguinário ditador.
4 - A Bela da Tarde (1967; 20h10)!
'A Bela da Tarde' (1967). |
Este foi o filme de maior sucesso da carreira de Buñuel e também foi produzido na França.
O filme mostra a história de uma jovem e bela mulher, Séverine (interpretada por Catherine Deneuve), casada com um rico burguês, Pierre (interpretado por Jean Sorel), que a ama intensamente, mas que não é correspondido por ela, pois a mesma é frígida e recusa-se até mesmo a ser tocada pelo marido.
Desta maneira, ela desfruta de uma vida materialmente confortável, mas vazia nos aspectos emocional, sentimental e sexual.
Para sair desta situação, Séverine começa a imaginar uma série de situações nas quais é humilhada, sendo que passa a trabalhar como prostituta no prostíbulo da Madame Anais.
Quando o filme termina, ficamos na dúvida se a bela Séverine realmente vivenciou tudo aquilo ou se ela estava imaginando todas as situações.
Obs: Em uma cena de 'A Bela da Tarde' nós temos uma referência ao filme 'Acossado' (1959), de Godard. O cineasta franco-suíço, por sua vez, citou o filme 'O Anjo Exterminador' (1962), uma das obras-primas do cineasta espanhol, em 'Weekend' (1967).
5 - O Discreto Charme da Burguesia (1972)!
'O Discreto Charme da Burguesia' (1972). |
O filme, que conquistou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1973, gira em torno de seis amigos burgueses, três casais, que tentam de tudo para conseguir jantar, mas eles nunca conseguem.
Isso ocorre em função das mais variadas situações: esquecimento do convite para jantar, realização de manobras militares em local próximo à residência, entre outras.
Essas situações são intercaladas por narrativas de sonhos e pesadelos que vários dos personagens começam a contar, misturando-se ficção com realidade, o que é uma característica muito presente na obra de Buñuel.
O filme também conta com a participação do grande ator espanhol Fernando Rey, que já havia trabalhado com Buñuel em 'Viridiana' (1960) e 'Tristana' (1970).
6 - O Fantasma da Liberdade (1974)!
'O Fantasma da Liberdade' (1974). |
Este foi o penúltimo filme de Buñuel, que encerraria a sua carreira com 'Esse Obscuro Objeto do Desejo', de 1976.
Este filme é um autêntico e verdadeiro filme Surrealista de Buñuel, pois o mesmo não contém uma narrativa, uma história, que possa ser mostrada do início ao fim do filme.
O que temos são as mais variadas situações, vivenciadas por inúmeros personagens, que não possuem lógica, sentido ou racionalidade, tal como manda o bom e velho Surrealismo, no qual Buñuel iniciou a sua carreira de cineasta, com o antológico 'Un Chien Andalou' (1929), realizado junto com Salvador Dalí.
O que 'une', vamos dizer assim, todas as situações do filme é sempre um personagem que sai de uma sequência, uma pequena história, e vai aparecer no começo da situação subsequente e, assim, sucessivamente.
E o filme também promove uma síntese da obra de Buñuel, no qual o mesmo critica as instituições, as autoridades e as camadas mais poderosas e privilegiadas da sociedade capitalista (políticas, econômicas, militares, religiosas...).
Luis Buñuel (22/02/1900 até 29/07/1983). |
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