'Delitto d'Amore' - Luigi Comencini retrata criticamente a Itália industrial e operária dos anos 1970!
'Delitto d'Amore' - Luigi Comencini retrata criticamente a Itália industrial e operária dos anos 1970! - Marcos Doniseti!
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| Giuliano Gemma e Stefania Sandrelli, dóis ótimos intérpretes. |
Direção: Luigi Comencini; Roteiro: Luigi Comencini e Ugo Pirro.
País de Produção: Itália; Ano: 1974; Duração: 100 minutos;
Elenco: Giuliano Gemma (Nullo Bronzi); Stefania Sandrelli (Carmela Santoro); Brizio Montinaro (Pasquale); Renato Scarpa (Médico).
Luigi Comencini foi um dos mais prolíficos e talentosos cineastas italianos, que construiu uma obra vasta diversa e plural (dirigiu 53 filmes em sua carreira), retratando criticamente a sociedade italiana, mostrando as transformações que se desenvolveram no país depois da Segunda Guerra Mundial, bem como as suas contradições.
Ele começou dirigindo longas com um filme autenticamente neorrealista, que é 'Proibito Rubare', de 1948, e continuou na ativa até 1991, tendo falecido em 2007, aos 90 anos de idade.
'Delitto d'Amore' (Crime de Amor, no Brasil) é um belo filme e que mostra a relação de um casal de operários, formado por Nullo e Carmela.
Porém, Comencini usa a história romântica deles para tratar de outros temas, relevantes, para a Itália da época, como a exploração dos operários pelos patrões, o machismo e a misoginia, a poluição e devastação do meio ambiente pela industrialização, as imensas diferenças entre o norte industrial e rico e o sul agrário e pobre da Itália e, até mesmo, para tratar do 'Compromisso Histórico' entre o PCI e a Democracia Cristã.
O casal é formado por Nullo Bronzi e Carmela Santoro. Ele é de Milão, de uma região mais liberal e com forte tons esquerdistas, que é o norte da Itália, sendo integrante de uma família de militantes do PCI (Partido Comunista Italiano), sendo todos ateus.
Enquanto isso, Carmela é de uma família católica e conservadora da Sicília, do Sul pobre, agrário e que, desde a unificação italiana e sua industrialização, forneceu milhões de trabalhadores pobres para trabalhar no norte industrializado do país. Sua família saiu da Sicília em busca de uma vida melhor no norte industrializado. Milão e Turim são os dois grandes centros industriais da Itália desde o final do século XIX.
Nullo e Carmela se apaixonam e querem, de fato, viver juntos e ter filhos, mas é nesse momento que os valores radicalmente distintos de suas origens, regionais, de classe e familiares, vai gerar uma série de conflitos entre os dois.
Assim, tudo fica mais difícil, devido ao controle rígido que a família de Carmela exerce sobre a sua vida pessoal, principalmente o seu irmão, Pasquale, que é um verdadeiro cão de guarda e que chega a brigar com Nullo em função do romance dos dois.
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A residência de Nullo é limpa, organizada e bem arrumada e fica em um local da cidade dotado de boa infra estrutura. Carmela chega a dizer que a família de Nullo é rica.
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Outro exemplo das diferenças entre as duas famílias é mostrada em uma sequência em que vemos Nullo em sua motocicleta, passeando com Carmela, que está na garupa. Logo depois vemos o irmão de Carmela dirigindo uma moto que acabou de comprar e Nullo percebe que ele está dirigindo de maneira errada, além de estar indo em alta velocidade. O resultado é que, logo depois, Pasquale atropela uma criança e é perseguido por vários homens da região. Pasquale é salvo de ser espancado pelo próprio Nullo.
Os dois, Nullo e Carmela, trabalham numa mesma fábrica, onde se conhecem e são explorados, e as condições de trabalho precárias afetam a saúde dos trabalhadores, principalmente das mulheres, que trabalham nos fornos. Carmela chega a desmaiar em função de toda a fumaça que absorve ali. Ela também é jovem e bonita e chega a atrair a atenção do seu patrão e do médico do local, mas os rejeita. Logo, Comencini denuncia, também, o assédio sexual que as mulheres sofrem.
Carmela manifesta, em vários momentos, uma saudade da Sicília, onde ela via o mar e o sol o tempo inteiro, enquanto que em Milão só existem rios poluídos, lixões a céu aberto, peixes mortos e um constante nevoeiro. Assim, Comencini já mostrava a destruição do meio ambiente pela indústria nessa época.
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| O local em que Carmela mora é bem mais precário e pobre do que o de Nullo, o que é motivo de vergonha para ela. E sua casa é motivo de vergonha para ela. |
E a devastação que a exploração que os trabalhadores sofrem, em suas condições de vida, em seu espírito, em sua saúde, é o maior obstáculo que Nullo e Carmela enfrentam para tentar viver juntos e serem felizes.
Porém, Comencini era um mestre da comédia e, é claro, que temos vários momentos de humor no filme, como na sequência em que Carmela chama Nullo para conversar sobre o relacionamento deles no banheiro da fábrica.
A relação entre Nullo, esquerdista e originário do norte industrial, e a católica, sulista e conservadora Carmela, também remete aos acordos políticos realizados na Itália, nos anos 1970, entre o Partido Comunista Italiano e a Democracia Cristã, liderados por Enrico Berlinguer e Aldo Moro, que eram os dois maiores partidos do país desde o final da Segunda Guerra Mundial.
O PCI era muito forte e organizado no norte industrializado, em cidades como Milão, Turim e Bolonha, enquanto que a Democracia Cristão tinha suas bases no sul agrário e rural.
Esses acordos entre os dois partidos ganharam o nome de 'Compromisso Histórico', que tinham como objetivo garantir a continuidade da Democracia no país independente de quem governasse a Itália. E é claro que havia conflitos entre os dois partidos, que defendiam valores e propostas muito distintas.
'Delitto d'Amore' é um belo filme de Luigi Comencini e está disponível no Youtube. As legendas podem ser encontradas no 'Open Subtitles'.
Link - IMDB - Informações sobre o filme:
https://www.imdb.com/pt/title/tt0071404/
Filme na íntegra - Youtube:
https://www.youtube.com/watch?v=ASTHU93Z2jM
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