Três breves histórias sobre o grande Jean-Paul Belmondo!
Três breves histórias sobre o grande Jean-Paul Belmondo! - Marcos Doniseti!
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Jean-Paul Belmondo e Jean Seberg em 'A Bout de Souffle' (1959), filme que revolucionou a maneira de se fazer filmes e que transformou os dois em grandes estrelas do cinema. |
1- A descoberta de Belmondo por Godard e seu primeiro trabalho com o cineasta!
A lenda do cinema francês Jean-Paul Belmondo faleceu neste dia 06 de Setembro, em Paris, conforme foi divulgado pelo seu advogado. Ele estava bastante doente desde que sofreu um AVC em 2001, o que praticamente colocou um fim em sua longa e brilhante carreira (fez apenas mais um filme e um curta depois disso).
Belmondo foi descoberto por Godard quando este assistiu a um filme de Marc Allégret (Un Drôle de Dimanche; 1958). Godard detestou o filme, mas elogiou bastante a atuação de Belmondo, dizendo que o mesmo era o melhor ator que havia surgido na França em muito tempo.
Daí, um dia, em Paris, Godard estava andando pela região central de Paris e encontrou Belmondo. Ele aproveitou para convidar o ator a participar de um curta-metragem que iria filmar e disse que se o mesmo estivesse interessado, então ele deveria ir a um hotel, lhe informando o número do quarto e que também seria pago pelo trabalho, é claro.
Porém, Belmondo ficou desconfiado e pensou que a história do filme era lorota e que Godard estava querendo ter relações sexuais com ele.
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Jean-Paul Belmondo e Anna Karina em 'Une Femme est Une Femme' (1961), de Godard. Este foi o segundo dos três longas-metragens no qual Belmondo e Godard trabalharam juntos. |
Foi isso que Belmondo disse à sua esposa quando chegou em sua residência. A sua esposa procurou acalmar o ator, dizendo que ele estava enganado e que se o Godard tentasse alguma coisa com ele, então bastaria lhe dar um murro, pois ele era muito maior e mais forte do que o magrinho e franzino Godard.
Além disso, Belmondo lutava boxe (amador) e, logo, Godard não teria a menor chance se realmente tentasse fazer aquilo que Belmondo suspeitava. Daí, Belmondo, no dia seguinte, decidiu ir até o hotel indicado por Godard e quando chegou ao local ele pôde constatar que, de fato, iria participar de um curta-metragem e não de uma relação sexual...
O curta se chamou 'Charlotte et son Jules' ('Charlotte e seu namorado'; 1958) e ao término das filmagens Godard lhe disse que quando fosse filmar o seu primeiro longa-metragem o próprio Belmondo é que iria interpretar o protagonista.
Belmondo não acreditou nessa afirmação, imaginando que seria mais uma das muitas promessas que são feitas na indústria do cinema e que, depois, não se confirmam, mas o cineasta cumpriu com a sua palavra, convidando-o a interpretar Michel Poiccard, o protagonista de 'A Bout de Souffle'. E com 'A Bout de Souffle' o talentoso Belmondo se tornou a nova grande estrela masculina do cinema europeu.
2 - Belmondo, 'o Brutto'!
Depois do sucesso que fez em 'Acossado', Belmondo foi convidado para trabalhar na Itália, dirigido por Vittorio De Sica, em 'La Ciociara' (Duas Mulheres; 1960), no qual contracenou com a Sophia Loren. O filme era uma adaptação de um livro, de mesmo título, de Alberto Moravia, e Sophia Loren conquistou o Oscar de Melhor Atriz por sua brilhante atuação no filme.
Daí, chegando lá na Itália o Belmondo passou a ser chamado de 'Brutto' pela imprensa italiana. Ele pensou que essa era uma expressão elogiosa, referindo-se ao fato dele ser alto e forte.
Porém, qual não foi a sua decepção quando descobriu que 'Brutto', em italiano, significa Feio. Belmondo não gostou nem um pouco disso, mas o 'Brutto' fez muito sucesso e se tornou um ator muito popular também na Itália.
Na terra de Leonardo da Vinci, o grande Belmondo trabalhou com algumas das principais e mais belas e talentosas atrizes do país, incluindo Claudia Cardinale ('Cartouche'; Philippe de Broca; 1962) e Gina Lollobrigida ('Mar Louco'; Renato Castellani; 1963).
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Jean-Paul Belmondo e Claudia Cardinale em 'La Viaccia' (1961), de Mauro Bolognini. Eles se tornaram grandes amigos. |
3 - Belmondo, 'o Grato'!
Depois que trabalhou com Godard em 'A Bout de Souffle' ('Acossado'; 1959), Belmondo tornou-se, imediatamente, uma grande estrela do cinema, tal como é relatado pelo próprio em sua autobiografia ('Mil Vidas Valem Mais do que Uma'; L&PM Editores). No livro, ele agradece a Godard por isso e não esqueceu de ajudar ao cineasta posteriormente, sendo que isso aconteceu em duas oportunidades.
Depois de 'Acossado', Belmondo passou a ser bastante requisitado para trabalhar com os principais
cineastas europeus. E é claro que o seu cachê aumentou bastante em
função disso. No entanto, ele abriu exceções no caso de Godard em duas oportunidades.
A primeira vez foi em 'Une Femme est Une Femme' (1961), filme que Godard fez para que a sua então esposa, a jovem, bonita e talentosa Anna Karina, que se tornou um ícone do cinema francês e europeu, pudesse brilhar.
Belmondo era a principal estrela do filme, que também contava com a participação de Jean-Claude Brialy, mas aceitou fazer um papel de coadjuvante e recebendo um cachê bem inferior ao que ganharia normalmente.
Em 'Une Femme est Une Femme' o 'brutto' Belmondo interpreta Alfred Lubitsch, nome que é uma homenagem de Godard ao grande cineasta que ficou famoso com suas comédias e musicais. Alfred é um amante da personagem Angela, interpretada por Anna Karina.
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Jean-Paul Belmondo e Anna Karina em cena de 'Pierrot le fou' (1965), obra-prima de Godard. |
Já em 1965 os dois, Godard e Belmondo voltaram a trabalhar juntos, e também com Anna Karina, no clássico poético, colorido e libertário 'Pierrot le fou', um filme tipicamente rimbaudiano do cineasta.
Godard estava com dificuldades para viabilizar a produção do filme, pois os possíveis financiadores somente liberariam o dinheiro necessário caso o protagonista fosse Belmondo, que já era uma grande estrela desde 'Acossado'.
Porém, embora o ator estivesse comprometido com outros projetos, ele concordou em ser o protagonista deste belo filme de Godard depois que finalizasse os mesmos, o que tornou possível a sua produção.
Portanto, sem Belmondo o filme não teria sido realizado.
Belmondo nunca escondeu a sua gratidão pelo que Godard fez por ele e retribuiu à altura.
Obrigado por tudo e descanse em paz, grande Belmondo!
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Godard, Anna Karina e Jean-Paul Belmondo na época das filmagens de 'Pierrot le fou' (1965). |
Entre os muitos filmes de sua longa e gloriosa carreira (ele participou de 92 produções, segundo o IMDB), temos:
'Quem Matou Leda?' (C. Chabrol),
'Acossado' (JL Godard),
'La Ciociara' (V. De Sica),
'Uma Mulher é Uma Mulher' (JL Godard),
'La Viaccia' (Mauro Bolognini),
'Léo Morin - O Padre' (Jean-Pierre Melville),
'Técnica de um Delator' (Jean-Pierre Melville),
'Pierrot le fou' (JL Godard),
'Paris Está em Chamas' (René Clément);
'O Ladrão Aventureiro' (Louis Malle);
'Sereia Sobre o Mississipí' (François Truffaut);
'Borsalino' (Jacques Deray);
'O Magnífico' (Philippe de Broca);
'O Profissional' (Georges Lautner);
'Medo Sobre a Cidade' (Henri Verneuil);
'Os Miseráveis' (Claude Lelouch).Jean-Paul Belmondo e Catherine Deneuve em 'A Sereia do Mississipi' (1969), de François Truffaut.
Links:
Cena de 'Acossado':
https://www.youtube.com/watch?v=02yI38FXlzQ
Cena de 'Cartouche':
https://www.youtube.com/watch?v=zyRXwC8Cp0A
Cena de 'Pierrot le fou':
https://www.youtube.com/watch?v=CldH22Gjqls
Jean-Paul Belmondo sendo homenageado no 'César' 2017:
https://www.youtube.com/watch?v=hqCu8j9H0J8
Jean-Paul Belmondo recebe o Leão de Ouro no Festival de Veneza de 2016:
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