Jean-Luc Godard: Um tipo de Arquiteto?
Jean-Luc Godard: Um tipo de Arquiteto?
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'Le Mépris' (1963): Filme de Godard que é considerado um dos maiores clássicos do Cinema e que pode ser interpretado de inúmeras maneiras. |
Godard: Um tipo de Arquiteto? - Marcos Doniseti!
Temos um excelente vídeo no Youtube, intitulado 'Jean-Luc Godard as Architect', com quase seis minutos de duração, e o mesmo mostra como Godard usa da Arquitetura em seus filmes, sugerindo que o cineasta francês seria 'um tipo de arquiteto'.
Assim, de acordo com Richard Martin, autor do texto e que narra o vídeo, Godard usa os espaços, os edifícios e as construções de maneira a relacioná-los com o próprio desenvolvimento das tramas e com os personagens de seus filmes.
Em 'Alphaville' (1965), por exemplo, todas as cenas da cidade futurista que vemos foram filmadas na Paris de 1965, sem qualquer efeito especial ou acréscimo de construções ou edifícios, como se faz normalmente em filmes de ficção-científica.
Godard simplesmente usou a própria cidade de Paris daquela época para inventar uma nova cidade, como que recriando a Paris da época e a transformando em uma cidade que simboliza o futuro distópico e totalitário que vemos no filme.
O vídeo é uma produção do 'BFI' e os comentários são feitos por Richard Martin, autor do livro 'A Arquitetura de David Lynch'. Ele usa de imagens dos filmes 'Alphaville' (1965), 'Bande à Part' (1964), 'Le Mépris' (1963), 'Pierrot le Fou' (1965) e 'Weekend' (1967) como base para fazer a sua análise.
Abaixo, publico uma tradução aproximada do texto que Richard Martin lê em seu vídeo. Se alguém identificar algum erro de tradução pode avisar, ok?
Texto do Vídeo 'Jean-Luc Godard as Architect', por Richard Martin!
Em sua longa e variada carreira Jean-Luc Godard trabalhou em muitas atividades, como diretor, editor, ator e crítico. Ele também é frequentemente considerado um artista, um poeta, um historiador e um filósofo.
Mas também podemos pensar em Godard como um tipo de arquiteto interessado em construir, capturar e organizar espaços ao longo de sua carreira. Godard mostrou um fascínio particular pela forma como a arquitetura nos molda e como a construção e os espaços mudam ao longo do tempo.
Pensemos nos prédios e espaços que interessaram a Godard.
Poderíamos pensar imediatamente em Paris, a cidade onde ele começou a assistir filmes, para fazer filmes, e conseguiu em seus primeiros filmes, como em 'Bande à Part', uma representação quase alegre de Paris, com pessoas correndo pelo Louvre, jukeboxes, cafés, lanchonetes e bares.
Ele queria capturar a atividade da vida real da cidade, para que não houvesse controle de multidões, uma viagem intensa ou grande número de equipamentos, e a vida nas ruas era incentivada a continuar nas filmagens. Suas representações posteriores de Paris mostraram uma versão menos idealista da cidade.
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Cena de 'Weekend' (1967), um dos principais filmes de Godard. |
Vejam ‘Alphaville’, que é um filme de ficção científica distópico de 1965, que usava locais existentes em Paris para representar um futuro sombrio e autoritário. Aqui está uma cidade escura de blocos de torre e escritórios corporativos controlados por uma burocracia impessoal e um computador todo-poderoso.
O que acontece quando as câmeras de Godard deixam Paris?
Entre os vários gêneros de filmes, sua carreira está envolvida com a viagem, que
aparece de uma forma ligeiramente distorcida em 'Pierrot le Fou' e ‘Weekend’.
Nesses filmes, Godard apresenta o acidente de carro como uma espécie de cenário arquitetônico, um arranjo de corpos e metal retorcido que é grotesco e cômico ao mesmo tempo.
'Weekend', em particular, nos dá o pior engarrafamento do mundo, uma sequência incrível de 9 minutos, mostrando carros presos no interior da França, que fazem parte da crítica mais ampla do filme ao consumismo e ao lazer.
Talvez o momento em que o envolvimento mais fascinante com a Arquitetura é aquele que vemos em 'Le Mépris'.
O filme começa nos terrenos dilapidados do estúdio de cinema Cinecittà, nos arredores de Roma. Para Godard, as paredes e os cartazes rasgados simbolizam o fim do sistema de estúdios e da era glamourosa do Cinema.
O coração de 'Le Mépris' é uma extraordinária cena de 30 minutos que define um apartamento moderno em Roma.
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Anna Karina em "Alphaville" (1965). |
Vemos o casal central do filme conversando, discutindo, se vestindo e tomando banho enquanto se movem pelo apartamento. Eles estão constantemente divididos pela arquitetura doméstica e quase nunca aparecem no mesmo espaço ao mesmo tempo.
O apartamento é novo e ainda está por terminar, mas o relacionamento já parece bom no final de 'Le Mépris', e encontramos uma das cenas mais emocionantes da Arquitetura, não apenas na carreira de Godard, mas em toda a história do Cinema.
A propriedade da ‘Villa Mella’ tem uma casa deslumbrante ao lado de um penhasco na ilha de Capri. Algumas pessoas sugerem que ela foi projetada pelo escritor italiano Curzio Malaparte.
Na época em que Godard filmou na casa, para 'Le Mépris', as paredes estavam descascando, mesmo que a vista estivesse deslumbrante como sempre.
No final de 'Le Mépris', vemos o próprio Fritz Lang agindo como um arquiteto, usando o terraço da propriedade da ‘Villa Mella’ enquanto faz a sua versão da ‘Odisseia’.
Assim, o filme sugere que Godard é um arquiteto que propõe uma versão extensa e imaginativa desse termo, que engloba ideias sobre como um cineasta pode usar locais existentes. O cineasta é como um criador de novos cenários que ele forma, organizados em sequências de espaço. E como um cineasta ele pode estabelecer uma nova e complexa relação espacial dentro da própria imagem.
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Cena de 'Pierrot le Fou' (1965). |
Link:
Vídeo de Richard Martin:
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