Comentando 11 Filmes da Era de Ouro do Cinema Italiano (Dino Risi, Elio Petri, Ettore Scola, Francesco Rosi...)! - Parte 1!
Comentando 11 Filmes da Era de Ouro do Cinema Italiano (Dino Risi, Elio Petri, Ettore Scola, Francesco Rosi...)! - Parte 1! - Marcos Doniseti!
O cinema italiano sempre esteve entre os melhores do mundo, criando belíssimas obras, e seus cineastas, roteiristas, atrizes e atores também. |
O Cinema Italiano e a sua gloriosa história!
Nesse texto eu comento onze grandes filmes italianos, incluindo alguns bastante famosos e outros nem tanto, mas que também possuem inegáveis qualidades. Esse texto é o primeiro neste formato sobre o cinema italiano.
Em breve, voltarei escrever outro texto no qual irei comentar outros filmes deste belo país e que criou um cinema belíssimo, gerando inúmeros clássicos e obras-primas. Até o Godard, em sua monumental "Histoire (s) du Cinéma", reconheceu que por 30 anos o Cinema Italiano foi o melhor do mundo.
Já escrevi e publiquei muitos textos sobre outras grandes obras do cinema italiano em meus blogs, principalmente no 'Cults e Cinéfilos', o que comento com mais detalhes mais adiante no texto.
A Itália criou algumas das maiores obras-primas da história do cinema mundial, incluindo:
- 'Roma, Cidade Aberta' (Roberto Rossellini; 1945); 'A Terra Treme' (Luchino Visconti; 1948);
- 'A Aventura' (Michelangelo Antonioni; 1960); 'Ladrões de Bicicleta' (Vittorio De Sica; 1948); 'Aquele que Sabe Viver' (Dino Risi; 1962);
- 'A Doce Vida' (Federico Fellini; 1960); 'A Primeira Noite de Tranquilidade' (Valerio Zurlini; 1972);
- 'A Classe Operária Vai ao Paraíso' (Elio Petri'; 1971); 'Salvatore Giuliano' (Francesco Rosi; 1962).
Esta é uma pequena lista, só para citar alguns dos mais representativos.
Vittorio De Sica, Roberto Rossellini e Federico Fellini: Trio de gênios do cinema italiano. |
A Itália sempre esteve entre os grandes países criadores de cinema e, até a Primeira Guerra Mundial, ela disputava com a França a liderança do mercado cinematográfico mundial, com os EUA vindo atrás dos dois países. Porém, devido à devastação provocada pela Grande Guerra de 1914-1918, os EUA, via Hollywood, tornaram-se hegemônicos no cinema mundial.
A Itália continuou produzindo muitos filmes depois da Grande Guerra (1914-1918) e, mesmo durante a ditadura reacionária e fascista de Mussolini, sua indústria cinematográfica foi fortalecida, com a criação do Festival de Veneza (1932), do Centro Sperimentale de Cinematografia (1935), com a construção dos imensos estúdios (os maiores da Europa) da Cinecittà, que ficaram prontos em 1937.
Nesse período nós também tivemos a criação da revista quinzenal 'Cinema', em 1936, que foi dirigida por Vittorio Mussolini (filho do ditador), em entre 1938 e 1943, e que foi publicada até 1943, quando o regime Fascista foi derrubado. 'Cinema' voltou a ser publicada, já na fase democrática, a partir de 1948.
Entre os principais colaboradores da 'Cinema' e que estiveram diretamente ligados ao Neorrealismo, nós tivemos Luchino Visconti, Michelangelo Antonioni, Giuseppe De Santis, Antonio Pietrangeli, Mario Alicata e Gianni Puccini, que eram todos de Esquerda.
E foi a partir dos debates que eles travaram nas páginas da revista que eles elaboraram e apresentaram o projeto de criação de um novo cinema, que foi o Neorrealismo Italiano, cujo marco inaugural foi o filme 'Ossessione' (1943), de Luchino Visconti.
'Ossessione' foi censurado pelo regime Fascista e teve inúmeros roteiristas, que eram, basicamente, a equipe de intelectuais marxistas que colaboravam com a 'Cinema', incluindo Visconti, De Santis, Alicata, Puccini e Pietrangeli. Logo, a produção de 'Ossessione' é o resultado direto de todos os debates que foram travados por eles nas páginas da 'Cinema'.
Michelangelo Antonioni: Um dos grandes nomes do cinema italiano e que se tornou muito influente. |
Todos estes investimentos na criação de uma bem organizada indústria cinematográfica aconteceu porque Mussolini queria usar o Cinema, a forma de arte mais popular daquela época, a única que chegava até as massas trabalhadoras mais pobres, para promover o seu regime e o seu nome entre o povo italiano, usando-o como instrumento de propaganda.
Desta maneira, o cinema italiano do período Fascista era usado para esconder a realidade do país (que era marcada por muita pobreza, desemprego, fome, criminalidade, prostituição) de seu próprio povo. A imensa maioria dos filmes realizados nesse período era do gênero 'Telefoni Bianchi' (Telefones Brancos), pois mostrava apenas a vida alegre e festiva dos ricos nobres e burgueses italianos.
A expressão 'telefones brancos' para designar este gênero de filme devia-se ao fato de que os aparelhos de telefone usados pelos ricos italianos eram brancos, enquanto que pelos demais italianos, mais pobres, os telefones usados eram pretos. Em 1976 o grande mestre Dino Risi dirigiu um filme com esse título, retratando esse período da história do cinema italiano.
Com a humilhante derrota da Itália fascista na Segunda Guerra Mundial o país ficou em uma situação catastrófica, com a imensa maioria de sua população vivendo na miséria e passando, além de toda a destruição material provocada pela brutal guerra.
Assim, foi nos estertores do regime Fascista que um grupo de cineastas e intelectuais de Esquerda, de formação marxista, passou a debater a criação de um novo cinema italiano, dando origem ao Neorrealismo, que revolucionou o cinema europeu e mundial, exercendo uma grande influência sobre as produções cinematográficas de inúmeros países, Brasil incluído, vide o 'Rio, 40 Graus', de Nelson Pereira dos Santos.
Entre estes cineastas esquerdistas nós tínhamos Luchino Visconti, Michelangelo Antonioni, Giuseppe De Santis, Gianni Puccini e Antonio Pietrangeli.
O ciclo do Neorrealismo Italiano começa com 'Ossessione' (Luchino Visconti, 1943) e dura até, essencialmente, 1952, com 'Umberto D', de Vittorio De Sica. Alguns filmes de características Neorrealistas ainda foram produzidos depois de 1952, mas o ciclo do Neorrealismo, de fato, tinha chegado ao fim.
Porém, o Neorrealismo deixou vários frutos, incluindo o do chamado 'Neorrealismo Rosa', comédias bastante populares que, ao mesmo tempo, que faziam o público dar boas risadas, também incluía em suas produções críticas políticas e sociais.
Da direita para a esquerda: Francesco Rosi e Elio Petri, dois dos principais nomes do cinema político italiano. |
Entre os principais cineastas dessa tendência do 'Neorrealismo Rosa' nós tivemos Renato Castellani, Luigi Comencini, Luciano Emmer, Luigi Zampa e Dino Risi.
Mas o cinema italiano nunca deixou de apontar as mazelas do país e, na década de 1960, será criado e irá se desenvolver um novo ciclo, que foi o do Cinema Político Italiano, que deu origem a filmes brilhantes.
Entre estes filmes, nós temos 'Salvatore Giuliano' (Francesco Rosi; 1962), 'Teorema' (Pier P. Pasolini; 1968), 'De Punhos Cerrados' (Marco Bellocchio; 1965), 'O Conformista', (Bernardo Bertolucci; 1970), 'A Classe Operária vai ao Paraíso' (Elio Petri; 1971), 'Sacco e Vanzetti' (Giuliano Montaldo; 1971), 'Investigação Sobre um Cidadão Acima de Qualquer Suspeita' (Elio Petri; 1970), 'Giordano Bruno' (Giuliano Montaldo; 1973), 'Nós Que Nos Amávamos Tanto' (Ettore Scola: 1974), 'Padre Padrone' (Paolo e Vittorio Taviani; 1977).
Outros filmes italianos, do Neorrealismo Italiano, do Neorrealismo Rosa e do Cinema Político, já foram analisados e comentados por mim em meu outro blog (Cults e Cinéfilos), incluindo os casos de 'Vítimas da Tormenta' (Vittorio De Sica'; 1946), 'O Caminho da Esperança' (Pietro Germi; 1950), 'Cronaca di un Amore' (Michelangelo Antonioni; 1950), 'Vivere in Pace' (Luigi Zampa; 1947), 'La Ciociara' (Vittorio De Sica; 1960), 'O Caso Mattei' (Francesco Rosi; 1972), 'Roma, ore 11' (Giuseppe De Santis; 1952), entre muitos outros.
Na sequência comento 11 filmes italianos, alguns mais conhecidos e outros menos, mas com inegáveis qualidades. Espero que gostem.
1 - Gli Anni Ruggenti (Os Anos Felizes; Luigi Zampa; 1962)!
Na década de 1930, no período do Regime Fascista de Mussolini, um corretor de seguros (Omero Battifiori, interpretado brilhantemente por Nino Manfredi) viaja para uma pequena cidade do sul da Itália.
Os membros da classe dominante da cidade, que inclui inúmeras figuras corruptas (políticos, empresários, militantes fascistas, etc), ficam sabendo que um importante hierarca fascista está para chegar. A visita do hierarca teria o objetivo de descobrir as ilegalidades e crimes que são cometidos por eles na cidade, o que os deixa apavorados.
Porém, o corretor Omero é confundido com o hierarca fascista pelos membros da classe dominante local, gerando inúmeras situações cômicas, pois eles fazem de tudo para agradar ao corretor, que não entende os motivos deste comportamento.
Assim, Zampa e os roteiristas (que incluem Ettore Scola entre os mesmos) usa da sátira para ridicularizar e criticar o regime Fascista de Mussolini, mostrando toda a incompetência e desonestidade da classe dominante italiana do período, bem como a conivência do regime Fascista com tudo isso.
Além de Nino Manfredi, o ótimo elenco do filme também inclui Gino Cervi, Michèle Mercier e Gastone Moschin.
Entre os roteiristas do filme nós temos o próprio Zampa, Sergio Amidei e Ettore Scola, que dois anos depois irá iniciar uma brilhante carreira de cineasta.
Excelente.
2 - La Marcia su Roma (Dino Risi; 1960)!
Essa é uma brilhante sátira que Dino Risi fez ridicularizando e criticando ao movimento Fascista criado e liderado por Benito Mussolini, em Março de 1919, quando tivemos a publicação do 'Manifesto de San Sepolcro'.
Dino Risi, falecido em Junho de 2008, aos 91 anos, foi um dos grandes mestres do cinema italiano, que se tornou muito popular com as suas comédias clássicas, como 'Pane, Amore e...' (1955), 'O Viúvo' (1959), 'Uma Vida Difícil' (1961), 'Aquele Que Sabe Viver' (1962) e 'Os Monstros' (1963).
'La Marcia su Roma' tem como protagonistas dois ex-soldados italianos que participaram da Primeira Guerra Mundial, lutando pelo Exército italiano. Eles são Domenico Rochetti (brilhantemente interpretado por Vittorio Gassman) e Umberto Gavazza (Ugo Tognazzi, em outra excelente atuação).
Depois que a Grande Guerra terminou, a Itália mergulhou em uma situação de grave crise econômica, política e social, e isso aconteceu mesmo com o país tendo lutado do lado vitorioso no brutal conflito, junto com França, Grã-Bretanha e EUA. Isso é mostrado, rapidamente, com imagens (mapas, filmes e fotos) de época, por Dino Risi no começo do filme.
Neste período, a Itália vivenciou o chamado 'Biênio Vermelho' (1919-1920), que foi um processo revolucionário do qual participou uma grande parte das classes trabalhadoras do país, principalmente operários e camponeses, que ocuparam indústrias e latifúndios pelo país.
A tentativa de Revolução acabou fracassando, mas foi ampla e forte o suficiente para deixar em pânico as classes dominantes italianas, como a Burguesia, a Nobreza, a Monarquia, o Exército, a Igreja Católica e a Alta Burocracia do Estado.
E para tentar impedir que algo do tipo acontecesse novamente, as classes dominantes decidiram convidar Mussolini e os Fascistas para que participassem do governo. Foi fechado um acordo político e, em Novembro de 1922, Mussollini foi, contra a própria vontade do Rei, nomeado o novo Primeiro-Ministro da Itália.
No entanto, inicialmente o movimento Fascista possuía fortes componentes originários do Socialismo, do qual Mussolini foi integrante, mas com o qual rompeu pois os Socialistas italianos foram contrários à participação da Itália na Primeira Guerra Mundial.
Vittorio Gassman e Dino Risi formaram uma das principais duplas do grande cinema italiano. |
Em função disso, Mussolini rompeu com os Socialista e vai criar, depois da Guerra, o movimento Fascista, que procurou conciliar ideias Socialistas (jornada de 8 horas diárias, salário mínimo, participação dos trabalhadores na gestão das empresas, proclamação da República...) com a defesa de um Nacionalismo Militarista e Imperialista.
Porém, gradualmente o Fascismo foi se afastando desses princípios Socialistas e foi se aproximando das forças mais Conservadoras e Reacionárias da Itália, até que foi fechado um acordo político com elas, o que permitiu a nomeação, pelo Rei Vitor Emmanuel III, de Mussolini como Primeiro-Ministro, passando a governar a Itália a partir de 30 de Outubro de 1922.
O momento histórico do qual o filme de Dino Risi é esse momento inicial do movimento Fascista, terminando com a ascensão de Mussolini ao poder.
A trama do filme gira em torno de Rocchetti e Gavazza que lutaram no Exército italiano juntos, ficaram amigos e que, depois da Guerra, voltaram a desfrutar de uma vida miserável. Assim, eles viram na adesão ao Fascismo uma maneira de conseguir ascender social e economicamente, melhorando suas condições de vida.
O primeiro (Rocchetti) tem como prioridade conseguir comida e deixar de passar fome. Para isso, ele fica pelas ruas pedindo ajuda a antigos oficiais do Exército italiano, até que ele encontra um capitão do Exército que o reconhece e o chama para participar do movimento Fascista, do qual era um líder. Ele adere, mas está muito mais preocupado em comer do que com a ideologia fascista.
Enquanto isso, o segundo (Gavazza) é um camponês desempregado que vive num pequeno povoado, na casa da irmã, e que sonha em receber terras para poder trabalhar por conta própria.
Assim, Gavazza acaba aderindo ao Fascismo depois que Rocchetti o reencontrou e o convenceu a se integrar ao movimento dizendo que se os fascistas chegassem ao poder a Reforma Agrária seria realizada.
De fato, a Reforma Agrária estava inscrita no manifesto original fascista, mas isso nunca foi adotado por Mussolini durante os mais de 20 anos em que governou a Itália. A promessa ficou apenas no papel, tal como aconteceu com praticamente todos os itens que constavam do manifesto de San Sepolcro.
E o filme de Dino Risi critica, usando do humor, justamente isso, ou seja, o progressivo afastamento que o movimento Fascista promove do seu programa original, que vai sendo jogado no lixo em função do fato de que Mussolini e os fascistas vão assumindo crescentes compromissos políticos na defesa dos interesses das classes dominantes italianas.
Assim, o filme vai mostrando situações nas quais fica claro que a defesa que o Fascismo fazia, inicialmente, da liberdade de imprensa, reforma agrária, fim dos privilégios da Nobreza, vai sendo deixada de lado para garantir a aliança com as classes dominantes, com o objetivo de ascender ao poder.
3 - "Strategia del Ragno" (A Estratégia da Aranha; Bernardo Bertolucci; 1970; 98 minutos)!
Giulio Brogi interpreta Athos Magnani (pai e filho) em 'A Estratégia de Aranha' (1970), excelente filme de Bertolucci, que foi realizado logo após a obra-prima 'O Conformista'. |
Este filme de Bertolucci, que foi produzido para a TV italiana, possui uma trama que se desenvolve em dois momentos históricos distintos, que é a Itália de 1970, em pleno processo de modernização econômica e de intensos conflitos políticos e sociais, e aquela que existiu na época do regime Fascista (1922-1943).
No filme, que é um thriller político, vemos um jovem Athos Magnani visitar a cidade natal (a fictícia Tara) de seu falecido pai, de mesmo nome, que teria sido assassinado em Junho de 1936 por, supostamente, um policial fascista, mas que ninguém na cidade sabe dizer quem foi.
A sua viagem se deu porque uma antiga amante de seu pai, chamada Draifa, viu a sua foto em um jornal de Milão, cidade próxima à fictícia Tara, e reconheceu a imensa semelhança entre pai e filho.
Assim, ela decidiu convidar Athos para visitar a cidade, o que era uma maneira dela de reviver os momentos que viveu ao lado do pai de Athos, por quem foi apaixonada e a quem ela nunca esqueceu.
Athos Magnani, pai e filho, são interpretados pelo mesmo ator (Giulio Brogi). O que permite diferenciar os mesmos é um lenço vermelho (um símbolo revolucionário) que é usado por Athos pai em volta do pescoço e no peito.
Além disso, Athos pai usa de expressões faciais mais duras do que o filho, até pelo fato de que vivencia uma situação muito mais violenta, durante o período do regime reacionário do Fascismo.
O filme vai e volta no tempo em inúmeros momentos, o que leva a pensar que Bertolucci parte do princípio de que não é possível falar sobre o presente sem levar o passado em consideração. Eles estão intimamente entrelaçados.
No período do Pós-Guerra, que termina com a derrota da Itália fascista, após o seu misterioso assassinato, Athos Magnani foi transformado em um herói local, sendo homenageado dando nomes para uma rua e para um centro cultural juvenil.
Na cidade, que Athos visita por convite de uma ex-amante do pai, chamada Draifa (interpretada por Alida Valli), ele irá se deparar com os mistérios envolvendo a morte de seu pai.
O nome da amante de Athos pai, Draifa, é uma referência ao caso Dreyfus, que ocorreu na França no final do século XIX e que foi fortemente marcado pelo antissemitismo, elemento muito presente nos movimentos políticos de Extrema-Direita (Nazismo, Fascismo, etc).
Nesta viagem, Athos também acaba conhecendo três antigos militantes antifascistas que foram aliados e amigos leais de seu pai: Costa, Rasori e Gaibazzi. Por meio destes, principalmente, ele irá começar a descobrir novas informações sobre a morte de seu pai.
Assim, durante a sua estadia em Tara, ele acaba percebendo e descobrindo que as circunstâncias da morte de seu pai são mais complicadas e misteriosas do que se pensava.
O filme faz uma indagação sobre a questão do heroísmo, bem como sobre de que maneira é construído o conhecimento histórico.
Bertolucci deixa claro que possui muitás dúvidas sobre a maneira como é construído esse conhecimento histórico, o que se dá a partir de uma determinada perspectiva, que acaba influenciando na maneira como a história passa a ser contada para as gerações posteriores àquelas que vivenciaram os acontecimentos.
E a própria maneira como Bertolucci mostra que Athos pai foi transformado em uma figura heróica deixa claro a sua visão crítica sobre o tema.
Em 1938, o futuro herói Athos Magnani e os seus amigos de movimento antifascista, naturais de Tara, entrarão em conflito. |
Assim, no filme, o próprio Athos pai acaba sendo o grande responsável pela sua futura transformação em um herói antifascista, pois ele mesmo controla, de maneira detalhada, toda a mise-en-scène relacionada a isso, embora a história tenha ocorrido de maneira bem diferente.
No filme, Bertolucci também mostra o processo de transformação que está ocorrendo no país, mostrando uma Itália que está desaparecendo, como a dos idosos (não há quase jovens na cidade) e a dos camponeses, que se deliciam com as frutas e alimentos naturais, do campo.
Em uma cena, vemos um dos camponeses (Gaibazzi), um dos antigos aliados do pai de Athos, dar uma verdadeira aula para o jovem Athos sobre a melhor forma de preparar e comer um alimento local, o culatello, que é um alimento típico da província de Parma, da qual Bertolucci e sua família são originários.
Ele também mostra o desaparecimento das antigas línguas que existiam, às centenas, na velha Itália, e que estão em fase de extinção, pois somente os idosos continuam falando as mesmas.
Em uma cena, inclusive, vemos dois idosos conversando na língua local, da Emília-Romagna, algo que os mais jovens não fazem mais, pois as antigas línguas locais e regionais foram totalmente substituídas pelo italiano, que é a língua da nobreza de Florença e que se tornou a língua nacional da Itália, o que ocorreu graças á universalização do ensino primário e a massificação da TV.
Assim, o filme de Bertolucci também retrata uma Itália que está desaparecendo, com línguas, modos de vida e de relações interpessoais que estão sendo rapidamente eliminados da sociedade italiana, que passava por um rápido processo de modernização (econômica, social, cultural, etc) na época da realização do filme.
"Strategia del Ragno" pode não ser uma produção tão grandiosa e faustosa quanto foi o belíssimo 'O Conformista', visto que foi um filme produzido para a TV italiana (a estatal RAI), mas é uma bela realização de Bertolucci.
O filme é uma adaptação livre de um conto do escritor argentino Jorge Luis Borges, intitulado 'Tema do Traidor e do Herói' e que foi incluído no livro 'Ficções'.
4 - Il Sospetto (O Suspeito; Francesco Maselli; 1975)!
Gian Maria Volontè interpreta Emilio, ex-integrante do PCI que havia sido expulso do partido, mas que foi readmitido, sendo escolhido para uma missão importante. |
Este filme, do diretor Francesco Maselli, que sempre foi ligado ao Partido Comunista Italiano, trata justamente de um período da história daquele que foi o maior partido comunista do Ocidente durante várias décadas, até que o mesmo fosse extinto, o que ocorreu por uma iniciativa dos seus próprios líderes em 1992.
Aliás, esta foi uma medida incompreensível, pois o PCI era o maior partido do país naquele momento, contando com um apoio sólido de 27% dos eleitores italianos.
Enquanto isso, os partidos que, até então, eram os maiores rivais do PCI (como o Democrata Cristão, Socialista e Liberal) haviam entrado em processo de colapso em função do envolvimento dos mesmos com o escândalo de corrupção das chamadas 'Maõs Limpas'.
O PCI tomou a mesma direção, optando por sua dissolução, embora não tenha tido qualquer envolvimento com esse gigantesco escândalo de corrupção, pois nunca havia governado a Itália.
A história do filme se desenvolve em 1934, em um momento no qual a Itália já tinha mais de 10 anos do Regime Fascista, liderado por Mussolini, e que estava consolidado no poder, principalmente em função do forte apoio que recebia das classes dominantes italianas.
O regime Fascista havia criado uma eficiente Polícia Política, chamada O.V.R.A. (Organizzazione per la Vigilanza e la Repressione dell'Antifascismo), fundada em 1927, que conseguiu prender milhares de esquerdistas italianos, principalmente comunistas, socialistas e anarquistas.
O mais notório desses prisioneiros políticos era Antonio Gramsci, fundador e um dos principais dirigentes do PCI, que ficou mais de 10 anos na prisão, entre 1926 e 1937, quando acabou falecendo. Neste período de forte repressão promovida pela Ditadura Reacionária e Fascista italiana, o PCI decidiu enviar os seus principais líderes para o exterior, para a França e para a URSS.
A trama do filme, embora seja ficcional, foi desenvolvida com base em documentos pertencentes ao Instituto Gramsci e se passe me 1934, quando a Ditadura de Mussolini e das força Reacionárias italianas estava consolidada.
O filme mostra um ex-dirigente do PCI, chamado Emilio (interpretado pelo brilhante Gian Maria Volonté, que era filiado ao PCI), que é reintegrado ao partido. Ele havia sido expulso alguns anos antes por criticar a linha política do PCI. Ele é chamado de volta e lhe perguntam se deseja voltar ao partido, o que ele acaba aceitando.
Inicialmente, Emilio é submetido a uma série de entrevistas e conversas com dirigentes do PCI, que desejam saber quais os motivos que o levaram a criticar a linha do partido. Ele também conversa uma dirigente chamada Teresa, com quem conversa a respeito da trajetória dele e do partido nos anos anteriores.
Por meio destas conversas tomamos conhecimento de quais foram as políticas adotadas pelo governo da URSS, pela Internacional Comunista e pelo PCI nos anos anteriores, com as várias mudanças de linha política que foram promovidas.
Um exemplo disso é que, depois da Crise de 1929, que desencadeou uma Grande Depressão em escala mundial, a Internacional Comunista decidiu que era o momento dos Partidos Comunistas trabalharem em favor de uma Revolução Socialista no mundo inteiro.
Essa Revolução não aconteceu em nenhum país, mas os membros dos Partidos Comunistas que discordaram da nova orientação acabaram expulsos. Este foi o caso de Emilio.
Assim, tomamos conhecimento dos motivos que levaram a Internacional Comunista a exigir uma disciplina rígida por parte dos partidos filiados à organização e que geraram várias expulsões de membros que não aceitassem se submeter à essas política.
Depois desse momento inicial, Emilio é designado para uma missão especial, que é a de se encontrar com outros dirigentes do PCI (Gavino, Resta, Libero...) que estão vivendo na clandestinidade e que não podem se expor, pois daí irão correr o risco de serem presos pela OVRA.
Muitos membros do PCI estavam sendo presos naquela época e o objetivo desta missão é, conforme é dito para Emilio, descobrir a existência de um possível espião que teria se infiltrado no PCI pela OVRA.
Desta maneira, o filme, que começa como um drama político, adquire um caráter mais semelhante a um filme de suspense, tornando-se um thriller político.
5 - Antonio Gramsci - Os Dias do Cárcere (Lino Del Fra; 1977)!
Riccardo Cucciolla interpreta, brilhantemente, ao principal teórico do PCI, Antonio Gramsci. O filme retrata o período em que ele esteve preso (1926-1937), chegando até a sua morte. |
Este belo filme cobre o período de 1926 a 1937 da vida do líder político, revolucionário e filósofo italiano Antonio Gramsci (22/01/1891 a 27/04/1937), quando ele estava preso e escreveu as suas obras: Cadernos do Cárcere e Cartas do Cárcere.
Gramsci foi membro do Partido Socialista Italiano e chegou a ser o editor do jornal oficial do PSI ('Avanti!') e, depois, rompeu com o partido, tendo sido um dos fundadores do Partido Comunista Italiano (em 21 de Janeiro de 1921), junto com Palmiro Togliatti, Camilla Rivera, Amadeo Bordiga, entre outros.
Sua obra ainda hoje é estudada e exerce uma significativa influência no pensamento e ação políticas de muitos movimentos, partidos, intelectuais e lideranças importantes, principalmente de Esquerda.
O filme começa com a prisão de Gramsci (interpretado brilhantemente por Ricardo Cucciolla), em Outubro de 1926, e termina com a sua morte, em 1937.
A prisão de Gramsci foi ilegal, pois quando ela aconteceu ele era deputado pelo PCI no Parlamento italiano. Sua prisão ocorreu em um momento no qual Mussolini promoveu uma brutal repressão contra as oposições (liberais e, principalmente, Socialistas, Comunistas e Anarquistas), depois que ocorreu um falso 'atentado' (um fakeado...) contra a vida do líder fascista.
No período em que teve esteve preso Gramsci recebia, com certa frequência, a visita da cunhada Tania (Lea Massari), que trabalhava e vivia na Itália. |
O filme retrata muito bem os principais aspectos da vida de Gramsci na prisão, bem como a sua relação com a cunhada Tatiana (também conhecida como Tania), que o visitava com frequência, bem como com quem ele trocou muitas cartas.
Também vemos a maneira como Gramsci se relacionava com outros militantes do PCI que estavam na prisão e que resistiam às críticas que ele, Gramsci, fazia à linha política que se torna dominante na Internacional Comunista.
Assim, vemos que Gramsci discordava totalmente da política, que foi adotada pelo governo soviético e pela Internacional Comunista (Comintern), de tratar os Socialistas e Social-Democratas como sendo integrantes da 'ala moderada do fascismo', sendo chamados de 'sociais-fascistas'.
O filme também usa de flashbacks, mostrando momentos anteriores da vida de Gramsci, como a época em que ocorreu o chamado 'Biênio Vermelho' (1919-1920).
Este foi um processo revolucionário que varreu a Itália e do qual Gramsci participou ativamente. Durante o mesmo tivemos a ocupação das fábricas pelos operários, principalmente no Norte da Itália (Turim, Milão, etc), e a ocupação de terras pelos camponeses (que eram a maioria absoluta da população italiana).
Gramsci teve um papel destacado durante o 'Biênio Vermelho', processo revolucionário que se desenvolveu na Itália em 1919 e 1920, mas que terminou com a derrota dos revolucionários. |
Algumas das principais ideias de Gramsci também são sintetizadas em alguns momentos do filme, quando das suas conversas com os outros militantes do PCI, como as de hegemonia, intelectuais orgânicos, entre outras.
O filme foi realizado em uma época na qual o PCI estava em visível ascensão no cenário político italiano, devido à nova linha política adotada pelo seu líder, Enrico Berlinguer, que adotou a política do chamado 'Compromisso Histórico'.
Por meio dessa política, Berlinguer e o PCI assumiram adefesa da manutenção da Itália como uma Democracia Liberal e como um Estado de Direito, que estavam ameaçados pelos inúmeros atentados terroristas e pela violência política que se tornaram endêmicos no país a partir de 1967-1968, e que eram promovidos pela Extrema-Direita e, em menor grau, pela Extrema-Esquerda. Este período da história italiana foi chamado de 'Anos de Chumbo' e vai durar até 1981.
A Versátil Home Vídeo lançou um DVD do filme, há bastante tempo, e o mesmo conta com um extra muito relevante, que são comentários feitos por Marcos del Roio, que é um dos principais estudiosos de Gramsci no Brasil. Sua fala dura 51 minutos e é imperdível, ajudando muito a compreender melhor a trajetória intelectual e de vida de Gramsci e, logo, ao próprio filme.
6 - Tre Fratelli (Três Irmãos; Francesco Rosi; 1981)!
O patriarca da família (Donato) perde a esposa e recebe aos três filhos para o velório (na foto, Rocco). O pai e os três filhos não se viam há muito tempo, pois eles foram viver na cidade. |
Este é um bonito filme de um dos principais cineastas italianos, Francesco Rosi, que é muito ligado ao ciclo do chamado Cinema Político Italiano, que se desenvolveu nas décadas de 1960 e 1970 e dos quais foi um dos seus principais nomes.
Rosi dirigiu vários dos principais filmes deste ciclo, incluindo 'Salvatore Giuliano' (1962), 'As Mãos Sobre a Cidade' (1963), 'Uomini Contro' (1970), 'O Caso Mattei' (1972), 'Cadáveres Ilustres' (1976) e 'Cristo Parou em Éboli' (1979).
A história do filme, como já indica o título, se desenvolve em torno de três irmãos e que acabam se reunindo na pequena propriedade rural dos pais, que se localiza no Sul da Itália, depois que são avisados de que sua mãe havia morrido.
Os três irmãos, (filhos de Donato Giuranna e de uma esposa sem nome) são Rafaele (interpretado por Philippe Noiret), Rocco (interpretado por Vittorio Mezzogiorno) e Nicola (interpretado por Michele Placido).
O primeiro, o juiz Rafaele está indignado com o fenômeno do terrorismo e da violência política que atingiam em cheio a Itália da época, quando tivemos os chamados 'Anni di Piombo' (Anos de Chumbo), que durou de 1968 a 1981. Ele condena os envolvidos em atos de violência política e, por isso, ele e sua esposa e filho sofrem ameaças de morte.
Rocco, por sua vez, é um professor que trabalha em uma entidade de menores infratores e que defende ideias socialistas, para criar um mundo melhor, sem as imensas desigualdades sociais e regionais que caracterizam, inegavelmente, o Capitalismo, o que ocorre mesmo nos país ricos (EUA, Reino Unido, etc).
E finalmente temos o irmão operário, Nicola, que foi do Sul para o Norte da Itália, saindo do campo para a cidade, indo trabalhar em uma indústria de Turim, a mais importante cidade industrial da Itália.
Nicola é bastante atuante no movimento sindical que, naquele período, era controlado por sindicatos ligados ao Partido Comunista Italiano, o maior partido de Esquerda da Europa Ocidental. Embora isso não seja deixado claro, tudo indica que Nicola é membro do PCI. E tal como o PCI, Nicola repudia a violência política que grassava na Itália naquele período.
Obs: O PCI sempre conquistava, no mínimo, 25% dos votos nas eleições para o Parlamento italiano e era hegemônico no Norte da Itália, governando muitas cidades importantes, como Turim, Milão, Bologna, Gênova, entre outras. Até os dias atuais o mais recente PD (Partido Democrático, herdeiro Social-Democrata de linha moderada do PCI)) é muito forte na região e governa grande parte das cidades do norte italiano.
Os três acabam fazendo uma reflexão sobre o rumo que as suas vidas tomaram e se indagam se não precisariam mudar as mesmas.
Assim, o casamento de Nicola encontra-se em crise, tendo se separado há 6 meses de sua esposa, embora ainda tenha fortes sentimentos por ela, que o traiu com outro homem durante um certo período de tempo. No sul, Nicola se encontra com uma antiga paixão de juventude (Rosaria), a quem ele deixou para trás quando foi viver em Turim, em busca de uma vida melhor.
O juiz Rafaele, por sua vez, debate-se a respeito de qual seria a melhor saída para a gravíssima situação política e social que a Itália vivencia, pois ele julga inúmeros casos de terrorismo e de violência que ocorriam na época. Ele tem pesadelos nos quais é vítima dessa violência pelo fato de que não faz concessões no combate aos envolvidos nos atos terroristas.
Rocco é alguém que se dedica à causa da recuperação de menores infratores, sendo um solteiro que não conseguiu encontrar uma mulher com a qual pudesse se casar, limitando-se a encontrar com prostitutas, o que lhe deixa em uma situação de vazio interior.
Enquanto isso, Marta, que é a filha de Nicola, ainda criança, acaba se identificando com o avô, Donato, que sofre pela morte de sua esposa. Ela é a única pessoa da família com quem ele conversa e se sente à vontade. No campo, Marta sente uma liberdade inexistente nas cidades, pois desfrutas de amplos espaços, em meio à natureza, convivendo com animais, correndo, descobrindo um mundo desconhecido para ela.
Assim, podemos analisar ao filme sob várias perspectivas, pois ele possui várias camadas.
Uma delas engloba o fim de um modo de vida, camponês e rural, que está desaparecendo, pois ninguém mais quer ficar vivendo em pequenas propriedades que estão, em grande parte, isoladas do mundo industrial, urbano, tecnológico e moderno, que está se impondo cada vez mais.
Obs: Pier Paolo Pasolini tratou muito deste assunto em inúmeros textos que escreveu e publicou em jornais e revistas italianos nos primeiros anos da década de 1970. Os textos foram reunidos no livro 'Escritos Corsários', que foi traduzido e lançado no Brasil em Março de 2020 pela Editora 34.
Outra perspectiva, sob a qual o filme pode ser analisado, é a de três irmãos que migraram do sul para o Norte da Itália, bem como do campo para a cidade, do mundo pré-industrial para o mundo industrial, se integrando ao mundo moderno, mas que enfrentam situações de vida problemáticas, o que os leva a enfrentar crises pessoais e existenciais, levando-os a refletir se fizeram as escolhas corretas.
O filme também é uma reflexão crítica que Francesco Rosi, que escreveu o roteiro junto com Tonino Guerra, a respeito da situação política e social extremamente violenta que a Itália vivenciava no período, e que já durava muito tempo, desde 1968, período no qual tivemos muitos atentados terroristas, que mataram cerca de 2 mil pessoas, entre 1968-1981 (ano da produção do filme).
Neste período, a Itália também foi sacudida por muitas greves, protestos e manifestações populares que reuniam milhares de pessoas e que resultavam, em muitas oportunidades, em casos de violência, travando-se verdadeiras batalhas de rua, envolvendo militantes de Direita, Esquerda, Extrema-Direita e Extrema-Esquerda.
Portanto, o filme de Francesco Rosi acaba sendo um relevante documento para se conhecer e pesquisar sobre um importante momento da história da Itália.
7 - C'eravamo Tanto Amati (Nós Que Nos Amávamos Tanto; Ettore Scola; 1974)!
Este é um belíssimo e emocionante filme de um dos grandes nomes do cinema italiano, que é Ettore Scola, um cineasta de Esquerda com formação humanista.
O filme conta com um grande elenco, incluindo Aldo Fabrizi, Stefania Sandrelli e Giovanna Ralli, além dos três protagonistas: Nino Manfredi, Vittorio Gassman e Stefano Satta Flores.
O filme começa no período final da Segunda Guerra Mundial, em 1944-1945, mostrando três Partigiani, membros da Resistência italiana que lutavam contra o Nazi-Fascismo, que eram Antonio (Nino Manfredi), Gianni (Vittorio Gassman) e Nicola Palumbo (Stefano Satta Flores).
Quando a Guerra terminou eles acabaram se separando e cada um voltou para a sua cidade de origem: Gianni volta para Pavia (norte da Itália), Nicola vai para Nocera Inferiore (sul da Itália) e Antonio vai para Roma (centro do país). Interessante que cada um deles é originário de uma região diferente da Itália. Então, a união deles se deu em função da luta contra o Nazi-Fascismo.
Antonio vai trabalhar como enfermeiro em um hospital público, Gianni se forma em Direito e vai trabalhar como advogado, enquanto que Nicola é um professor de Esquerda radical e que é bastante intelectualizado.
Antonio conhece e se apaixona por Luciana (Stefania Sandrelli). Ela será o pivô da separação dos três amigos. |
E logo no começo do filme veremos uma nova personagem, que é a bela e romântica Luciana (Stefania Sandrelli). Antonio a conhece no hospital e se apaixona pela jovem. Porém, terá uma surpresa desagradável ao apresentar a mesma para o seu melhor amigo, Gianni, fazendo com que os grandes amigos briguem.
E no trabalho o esquerdista Antonio acaba sendo prejudicado profissionalmente porque o conservador governo italiano, controlado pela Democracia Cristã, acaba por priorizar os profissionais ligados ao partido na hora de promover alguém.
Assim, por toda a sua vida, Antonio ficará estagnado profissionalmente devido à questões políticas, o que é uma maneira de Scola denunciar as manipulações que ocorriam rotineiramente no serviço público italiano neste período. Ele será sempre um simples e pobre proletário.
Enquanto isso, Nicola abandona a família (esposa e filha), inconformado com o atraso cultural das pessoas de sua pequena cidade do sul italiano, e vai morar em Roma, em busca de novas perspectivas artísticas, intelectuais e culturais. Na capital italiana ele vai se dedicar a escrever inúmeras críticas de cinema para variadas publicações (jornais e revistas). Ele também irá demonstrar interesse por Luciana.
Gianni, por sua vez, vai exercer a advocacia e acaba se conhecendo a filha de um poderoso e corrupto empreiteiro, Romolo Catenacci (interpretado por Aldo Fabrizi, um dos grandes nomes da história do cinema e do teatro italianos).
Gianni acaba abandonando Luciana e se casa com Elide (a bela Giovanna Ralli), abandonando os ideais socialistas da sua juventude em favor do desejo de ascensão econômica e social, tornando-se um típico burguês egoísta, narcisista, ambicioso e individualista.
O filme de Scola também usa da metalinguagem, por meio de momentos teatrais que se relacionam com a trama do filme, e também faz uma bela homenagem ao Cinema italiano do Pós-Guerra (o Neorrealismo, em especial). Ele faz homenagens a cinco grandes nomes do cinema italiano (Luchino Visconti, Antonioni, Rossellini, Vittorio De Sica e Fellini).
Aliás, temos uma pequena e bonita participação de Fellini e Mastroianni, em uma cena na qual eles ensaiam a bela e antológica cena da Fontana di Trevi que vemos em 'A Doce Vida', a obra-prima de Fellini. E o grande Scola também não perde a oportunidade de fazer uma brincadeira com o genial Fellini.
Imperdível.
8 - Indagine su un Cittadino al di Sopra di ogni Sospetto (Investigação Sobre um Cidadão Acima de Qualquer Suspeita; Elio Petri; 1970)!
Gian Maria Volontè e Florinda Bolkan, atriz brasileira que fez carreira de sucesso no cinema italiano. |
'Indagine su un cittadino..." é um filme absolutamente fantástico de Elio Petri. Revi o filme há pouco tempo e o mesmo me pareceu ainda melhor do que era quando o assisti pela primeira vez, há muitos anos.
Assim, tive como perceber certos movimentos de câmera, uso da iluminação e enquadramentos que não havia percebido anteriormente. Uma cena, em especial, é belíssima, quando o 'Dottore', o policial que comanda a Divisão de Homicídios, sobe para o local em que o crime que ele cometeu (o assassinato de Augusta Terzi) havia acontecido.
A combinação de trilha sonora, movimentos de câmera e a atuação de Gian Maria Volontè é absolutamente perfeita. Isso é cinema feito por gente grande.
A história, além disso, é coerente e é desenvolvida com muito brilhantismo, sendo que já naquela época o filme denunciava as manipulações dos detentores do Poder no sentido de esconder a podridão dos seus semelhantes.
O lema do filme de Elio Petri parece ser "Corporativismo acima de tudo, Investigações Somente Para os Inimigos do Poder Acima de Todos'. Afinal, salvar a imagem das instituições, mesmo escondendo os podres dos seus membros, é algo rotineiro nos dias atuais.
Gian Maria Volontè interpreta o 'Dottore', policial que faz uso de métodos criminosos para perseguir e prender inocentes. |
O que Elio Petri mostra é que isso acontecia de forma rotineira na Itália daquela época, que era marcada por intensos conflitos políticos, ideológicos e sociais, envolvendo movimentos sociais, partidos políticos (de Esquerda, Extrema Esquerda, Direita e Extrema Direita).
Naquele momento histórico, a A Itália vivenciava um período turbulento, que foi chamado de 'Anni di Piombo' (Anos de Chumbo), com muita violência nas ruas, ocorrendo verdadeiras batalhas nas cidades italianas e, é claro, que as ações repressivas por parte da Polícia faziam parte desse contexto.
O que Elio Petri mostra neste belíssimo filme é que, nestas circunstâncias, as forças policiais e do Estado italiano adotaram comportamentos ilegais e criminosos com o objetivo de reprimir e sufocar estes acontecimentos, violando de forma descarada os direitos do cidadão, promovendo prisões ilegais, torturas físicas e psicológicas contra pessoas inocentes, grampeando suas ligações telefônicas.
Neste sentido, temos uma cena fantástica, mas trágica, na qual o Dottore interroga um jovem estudante, usando de torturas, para que o mesmo entregue um amigo, acusando-o falsamente de ser o responsável pelo assassinato de Augusta. Enquanto pratica todos esses crimes, o Dottore faz todo um discurso em defesa da Democracia...
O filme prende a atenção do início ao fim, sendo marcado por uma tensão que vai crescendo à medida que a história vai sendo desenvolvida, com o protagonista (o Dottore...) ficando cada vez mais nervoso e neurótico, pois ele faz de tudo para que descubram que ele é o criminoso e que o prendam em função deste fato, mas isso não acontece.
E o motivo dele não ser preso nós descobriremos na sequência final, quando é confrontado pelos chefões da Polícia italiana.
E também ficamos com dúvidas sobre a morte de Augusta Terzi, pois inicialmente não sabemos se a mesma foi acidental ou intencional.
O filme provocou muita polêmica na Itália na época do seu lançamento, pois a visão que mostrava da Polícia italiana era muito crítica. Elio Petri teve que buscar refúgio na França em função disso.
E ainda temos um Gian Maria Volontè em excepcional atuação, como sempre acontecia.
Fantástico.
9 - 'Il Caso Mattei' (O Caso Mattei; Francesco Rosi; 1972)!
Nas décadas de 1950 e 1960, Enrico Mattei, o Diretor Geral de uma empresa estatal de petróleo da Itália (AGIP) enfrenta e desafia as poderosas 'Sete Irmãs' que controlavam o mercado de petróleo mundial: Chevron, Exxon, Gulf, Mobil, Texaco, Shell e British Petroleum.
Mattei passou a fazer acordos com os países produtores de petróleo, para os quais oferecia melhores condições na divisão dos lucros do que era oferecido pelas '7 Irmãs'.
Desta maneira, Mattei oferecia acordos nos quais 75% dos lucros ficavam para os países produtores e 25% dos mesmos para a AGIP, enquanto que as '7 Irmãs' dividiam os lucros em partes iguais, 50% para os 2 lados.
Ao adotar essa política Mattei conseguiu dar início a um processo de quebra do Cartel formado pelas '7 Irmãs', que dominavam o mercado mundial de petróleo. Ele também vendia os combustíveis da AGIP a preços baixos para o povo italiano, prejudicando as empresas das '7 Irmãs' que atuavam na Itália.
É claro que essa política irritou profundamente as '7 Irmãs', bem como aos acionistas destas gigantescas empresas.
Mattei usava os investimentos públicos para promover o desenvolvimento econômico das regiões mais pobres da Itália, como é o caso da Sicília. |
Em um momento do filme vemos que Mattei é pressionado por um representante das '7 Irmãs' para abandonar essa política, mas ele se recusa, dizendo que o seu papel era administrar a empresa, que era do Estado, de maneira a beneficiar o povo italiano e não aos acionistas particulares.
Em 1962, o avião no qual Mattei estava, que havia saído da Sicília e se dirigia a Milão, explodiu um pouco de antes de pousar no aeroporto de Milão. É claro que as suspeitas recaíram sobre as '7 Irmãs' e, posteriormente, ficou comprovado o envolvimento da Máfia italiana, que possuía muitas ações das '7 Irmãs', na morte (assassinato, portanto) de Mattei.
O filme é uma mescla de documentário e ficção e Mattei é interpretado pelo grande Gian Maria Volonté. O próprio Francesco Rosi também participa do filme, indo até a Sicília para obter informações a respeito do filme que estava realizando.
O filme está disponível no Youtube, com legendas em português.
10 - A Décima Vítima (Elio Petri; 1965)!
Ursula Andress interpreta Caroline Meredith, uma participante da 'Grande Caçada', competição criada para satisfazer os instintos violentos dos indivíduos e substituir as guerras. |
Este filme é um ficção científica satírica do grande cineasta Elio Petri, que foi um dos grandes nomes do cinema político italiano nos anos 1960 e 1970, tendo dirigido obras-primas como 'A Classe Operária Vai ao Paraíso' e 'Investigação Sobre um Cidadão Acima de Qualquer Suspeita'.
O filme conta com a participação de Marcello Mastroianni, Ursula Andress, Elsa Martinelli e Salvo Randone.
Mastroianni interpreta Marcello Poletti e Ursula interpreta Caroline Meredith.
O filme foi produzido por Carlo Ponti e Joseph Levine, os mesmos produtores de 'Le Mépris' (O Desprezo; 1963), de Godard.
Elio Petri usa de um visual inspirado na Pop Art e na história em Quadrinhos para mostrar uma visão crítica de uma sociedade futurista. No filme temos referências a vários personagens de HQs, como 'Flash Gordon' e 'O Fantasma'.
O filme foi baseado no conto 'The Seventh Victim', de Robert Sheckley. Com o sucesso internacional do filme, o autor do conto escreveu uma novelização, mas o roteiro do filme é de autoria de Elio Petri, Tonino Guerra, Ennio Flaiano e Giorgio Salvioni.
Caroline Meredith (Ursula Andress) e Marcello Poletti (Mastroianni). Ela está caçando ao italiano para conduzir o mesmo até o Templo de Vênus, onde pretende matá-lo. |
O filme mostra uma história de uma sociedade futurista que aboliu as Guerras, que foram substituídas por um evento que se chama de 'Grande Caçada'.
A metalinguagem também está presente no filme, pois nele vemos produtores procurando locações em Roma para poder filmar um programa para a TV envolvendo a chamada 'Grande Caçada'
A 'Grande Caçada' é um evento do qual pessoas comuns participam para se tornarem famosas, tendo a chance de ganhar dinheiro muito (US$ 1 milhão de dólares para quem vencer a competição) e também para extravasar o seu instinto violento.
E a 'Grande Caçada' é transformada em um grande espetáculo para a TV, que é patrocinado por grandes empresas, que usam o mesmo para fazer propaganda de seus produtos.
Ursula Andress e Marcello Mastroianni em 'A Décima Vítima', ficção-científica de Elio Petri que faz uso da Pop Art e das Histórias em Quadrinhos. |
Nesta 'Grande Caçada' a vítima é avisada de que será caçada por outra pessoa, mas não tem nenhuma informação a respeito de quem é o caçador ou a caçadora. As pessoas tem que se inscrever para participar da Grande Caçada e a escolha de quem irá participar do espetáculo é feita por máquinas, que determinam quem será o caçador ou caçadora e quem será caçado (a).
No filme, o italiano Marcello Poletti (Mastroianni) é escolhido para ser caçado pela bela americana Caroline Meredith (a belíssima Ursula Andress).
Marcello não sabe que ela é a sua caçadora e, assim, ela se aproveita para se aproximar dele, parecendo ser uma pessoa simpática, como se fosse uma jornalista querendo entrevistá-lo a respeito do caráter sexy dos homens italianos. Assim, ela tenta atrair o mesmo para um local específico de Roma, que é o Templo de Vênus, onde o assassinato será filmado para promover um produto de uma empresa.
Isso acontece porque Caroline foi contratada por uma grande empresa dos EUA que vende e distribui um chá (Ming Tea) para que o assassinato de Marcello ocorra exatamente naquele local.
A belíssima Ursula Andress. |
É claro que a insistência dela em convencer Marcello a ir até o local irá gerar uma grande desconfiança nele. Assim, teremos uma espécie de jogo de sedução e atração entre ambos, pois eles começam a se sentir atraídos romanticamente.
No filme, Elio Petri usa do humor, da ação, da aventura e do romance para criar uma ficção científica de visual inspirado na Pop Art, com o objetivo de fazer uma crítica das modernas sociedades de consumo que estimulam as pessoas a desejar a fama e a fortuna acima de tudo.
Assim, nesta sociedade, os indivíduos lutam entre sim, o que é uma referência bastante óbvia ao individualismo e competição que existem nestas modernas sociedades. Além disso, a Grande Caçada permite que as pessoas também possam extravasar o seu instinto violento para poder atingir os seus objetivos.
Portanto, tal como outros cineastas autorais também o fizeram (Godard em 'Alphaville' e Truffaut em 'Fahrenheit 451', entre outros), Elio Petri usa de uma ficção científica de aparência futurista para fazer uma crítica certeira à certos elementos fundamentais das sociedades capitalistas modernas.
11 - Cadaveri Eccellenti (Cadáveres Ilustres; Francesco Rosi; 1976)!
Cena de abertura de 'Cadaveri Eccellenti'. |
Este é um dos principais filmes do ciclo do cinema político italiano dos anos 1960 e 1970 e foi dirigido pelo grande mestre Francesco Rosi, que já havia realizado outros grandes filmes em sua belíssima carreira, tais como 'Salvatore Giuliano' (1962), 'As Mãos Sobre a Cidade' (1963), 'Uomini Contro' (1970) e 'O Caso Mattei' (1972).
Francesco Rosi começou a sua trajetória no cinema na época do Neorrealismo Italiano, sendo que trabalhou como assistente de direção em 'A Terra Treme' (Luchino Visconti; 1948), 'Domingo de Agosto' (Luciano Emmer; 1950) 'Belíssima' (Luchino Visconti; 1951) e 'Paris é Sempre Paris' (Luciano Emmer; 1951), entre outros. Rosi também foi um dos roteiristas de 'Belíssima' e de 'Paris é Sempre Paris'.
A cena de abertura já é impactante, pois na mesma nós vemos um idoso andando em um corredor repleto de cadáveres, sendo que os mesmos estão dependurados ou grudados na parede. Depois, ficamos sabendo que esse homem idoso é um juiz (Varga, interpretado por Charles Vanel, ator veterano que trabalhou com Hitchcock, Buñuel e Clouzot) e, logo depois, ele é assassinado em plena rua.
O filme é uma adaptação do livro 'O Contexto', de Leonardo Sciascia, e a trama do mesmo se desenvolve em torno do assassinato de vários juízes italianos. Os crimes são investigados por um policial, o inspetor Amerigo Rogas (interpretado por Lino Ventura, em ótima atuação).
O filme de Francesco Rosi mostra uma história baseada em livro de Leonardo Sciascia ('O Contexto'). |
Inicialmente, Rogas acredita que os crimes são resultado de vingança porque os juízes assassinados estiveram envolvidos em julgamentos nos quais a culpa dos réus não ficou efetivamente comprovada.
Em sua investigação, Rogas irá contar com a colaboração de um outro policial (sem nome, interpretado por Renato Salvatori), que grampeia os telefones e grava as conversas de muitas pessoas, ilegalmente.
Assim, Rosi deixa claro que os direitos e as liberdades individuais não eram respeitados na Itália da época. O Estado italiano, que era controlado pelas forças mais retrógradas, abusava dos seus poderes, violando as liberdades dos cidadãos.
Esse era, aliás, um fenômeno global nesta época, o que irá resultar em um contínuo aumento do poder de vigilância e de espionagem do Estado e das grandes corporações sobre os cidadãos. O cinema político deste período já mostrava esse fenômeno.
As denúncias de Edward Snowden sobre as violações destes direitos pela NSA foram o ápice deste processo que, é claro, continua acontecendo pelo mundo afora, configurando claramente a existência de um Estado Policial de alcance e extensão global, que envolve instituições poderosas e grandes corporações privadas, principalmente as do setor de alta tecnologia, Internet e de tecnologias de informação.
No entanto, à medida que vai aprofundando as investigações, o sério, íntegro e competente Rogas percebe que os crimes e assassinatos contra os juízes possuem claras motivações políticas e que os mesmos envolvem figuras muito poderosas das principais instituições do Estado italiano, incluindo militares, lideranças políticas, chefes da Polícia e outros juízes, bem como a Máfia.
Com isso, Rogas passa a defender a ideia de que os crimes são fruto de uma vasta conspiração que envolve essas pessoas e instituições muito poderosas e cujos membros passam a mentir para ele de forma descarada, bem como passam a espioná-lo, chegando a grampear o seu telefone e a colocar agentes à paisana para vigiá-lo.
Max von Sydow interpreta um juiz que está envolvido em tramas secretas e que justifica os chamados 'erros judiciais'. |
Assim, mesmo sem o desejar, Rogas acabará envolvido nos conflitos e nas lutas políticas e sociais da Itália da época, que foram os chamados 'Anni di Piombo' (Anos de Chumbo), que se desenvolveram entre 1967-1981. Sua investigação chama a atenção, também, de um jornalista que é ligado ao jornal oficial ("L'Unità") do PCI (Partido Comunista Italiano).
E o final do filme mostra, claramente, a visão crítica que Francesco Rosi tinha em relação a todo esse momento histórico vivenciado pela Itália, que foi marcado pela radicalização política e pela atuação de grupos extremistas, principalmente os de Extrema Direita, que estavam presentes nas principais instituições do Estado italiano, como as Forças Armadas, o Poder Judiciário e a Polícia.
Aliás, Rosi deixa claro, no filme, que essas instituições sempre procuravam culpar os movimentos políticos formados por jovens (Comunistas, Anarquistas) pelos crimes que eram cometidos, mesmo quando elas não possuíam uma única prova do envolvimento dos mesmos nos atentados terroristas e nos assassinatos. Isso acontecia com bastante frequência na Itália nesta época.
Francesco Rosi disse que, inicialmente, o produtor Alberto Grimaldi não gostou do título, devido à presença da palavra 'cadáver', que poderia afastar o público, mas ele insistiu na manutenção da mesma, o que foi um grande acerto.
Links:
1- Filme 'Gli Anni Ruggenti' (Luigi Zampa; 1962; na íntegra):
https://www.youtube.com/watch?v=W1QQA9QBO2Y&t=169s
"Gli Anni Ruggenti' - Legendas em Português:
2 - La Marcia su Roma (Dino Risi; 1962; na íntegra):
https://www.youtube.com/watch?v=0z0AtPnx7S0&t=3377s
3 - A Estratégia da Aranha (Bernardo Bertolucci; 1970; na íntegra):
https://www.youtube.com/watch?v=UgZ9KZ_cpvU&t=2858s
https://www.youtube.com/watch?v=anZHVE_a9Yk&t=2425s
4 - Il Sospetto (Francesco Maselli; 1975; na íntegra):
https://www.youtube.com/watch?v=tBK-dazIrtg&t=1597s
5 - Antonio Gramsci - Os Dias do Cárcere (Lino del Fra; 1977; na íntegra):
https://www.youtube.com/watch?v=d7ncyrmcuIU
6 - Tre Fratelli (Três Irmãos; Francesco Rosi; Trailer do filme):
https://www.youtube.com/watch?v=YmbnDvYS_iM
7 - Nós Que Nos Amávamos Tanto (Ettore Scola; 1974; na íntegra):
https://www.youtube.com/watch?v=ZtqQntjKB0I
8 - Indagine su un Cittadino al di Sopra di Ogni Sospetto (Investigação sobre um Cidadão Acima de Qualquer Suspeita; Elio Petri; 1970; na íntegra):
https://www.youtube.com/watch?v=vcPVPJWjLTo&t=976s
9 - O Caso Mattei (Francesco Rosi; 1972; na íntegra):
https://www.youtube.com/watch?v=7ueUdBuviXk&t=32s
10 - A Décima Vítima (Elio Petri; 1965; na íntegra):
https://www.youtube.com/watch?v=pUa98zRbzQM
Entrevista com Francesco Rosi sobre 'Cadaveri Eccellenti':
https://www.youtube.com/watch?v=hoMrx-RngrA
11 - Cadaveri Eccellenti (Francesco Rosi; 1976):
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