Isabelle Huppert, Juliette Binoche, Julie Delpy, Maruschka Detmers e Héloise Godet lamentam a partida de Godard!

Isabelle Huppert, Juliette Binoche, Julie Delpy, Maruschka Detmers e Héloise Godet lamentam a partida de Godard! - Marcos Doniseti!

Isabelle Huppert entrega o prêmio 'César', em 1987, para Godard, pelo conjunto da obra. No seu discurso de agradecimento o cineasta homenageou os profissionais do cinema que não aparecem nos filmes, mas que são importantes para a realização dos mesmos (montadores, diretores de fotografia, autores da trilha sonora, etc).

Durante a sua longa carreira o grande Jean-Luc Godard revelou inúmeras atrizes que construíram carreiras vitoriosas posteriormente ou então trabalhou com elas quando ainda eram muito jovens ou desconhecidas.

A mais famosa de todas é, sem dúvida, a sua grande musa dos anos 60, do período da Nouvelle Vague, a dinamarquesa Anna Karina, que iniciou a sua carreira de atriz com Godard. 

Antes, na Dinamarca, Anna Karina era modelo, seguindo para a França depois com o objetivo de dar continuidade a essa carreira, quando foi convidada por Godard para, inicialmente, atuar em um pequeno papel de 'A Bout de Souffle' (1959), o que ela recusou. 

Depois, Anna Karina foi convidada por Godard para atuar em 'Le Petit Soldat' (1960) e acabou aceitando. Foi durante as filmagens que eles iniciaram o seu relacionamento, casando-se pouco tempo depois. O casamento durou até dezembro de 1964, quando se divorciaram, embora tenham trabalhado juntos em mais três longas-metragens depois disso.

Juntos, Godard e Anna Karina fizeram sete longas-metragens, que estão todos entre os mais relevantes da carreira de Godard, que são: Le Petit Soldat (1960), Une Femme est Une Femme (1961), Vivre sa vie (1962), Bande à Part (1964), Alphaville (1965), Pierrot le fou (1965), Made in USA (1966).

Depois, Godard também trabalhou com Anne Wiazemsky, o que começou em 'A Chinesa' (1967), 'Weekend' (1967) e continuou em outros filmes, como o 'One Plus One'/'Sympathy for the Devil' (1968), 'Vento do Leste' (1970), Lutas Ideológicas na Itália' (1970), 'Vladimir e Rosa' (1971) e 'Tudo Vai Bem' (1972).

Uma jovem Juliette Binoche atuou em 'Je Vous Salue, Marie' (1985), filme de Godard que gerou muita polêmica mundo afora. Muitas pessoas que o atacaram mal se deram ao trabalho de assistir ao filme.

Juliette Binoche também foi uma jovem atriz (tinha apenas 20 anos) que trabalhou com Godard, sendo uma coadjuvante no filme 'Je Vous Salue, Marie' (1985), que foi o seu segundo filme para cinema. A respeito do falecimento de Godard, ela publicou o seguinte texto em sua conta no Instagram: 

"Jean-Luc Godard tinha 55 anos quando filmamos "Je Vous Salue, Marie", eu tinha 20. Eu estava muito feliz e às vezes tão infeliz, 5 ou 6 pessoas para filmar em Vevey, em sua fortaleza guardada. Alguns meses em um hotel esperando por sua inspiração. Aprendi com você que o cinema é ir contra, contra as convenções, contra o que parece bondade. Contra todas as probabilidades. Ciao ciao Maestro ✨".

Isabelle Huppert, que trabalhou com Godard em dois filmes ('Sauve qui peut la vie', de 1980,  e 'Passion', de 1982) também lamentou o seu falecimento.

Em entrevista para a 'Variety', entre outros comentários, ela disse o seguinte: "Como qualquer grande artista, ele era político na maneira como fazia filmes. Ele interrompeu a narração, a forma linear da narrativa tradicional, a edição. A forma de seus filmes era tão ousada e inovadora que era política. E é por isso que ele se tornou Jean-Luc Godard."

Isabelle Huppert também comentou sobre os últimos filmes de Godard, afirmando o seguinte: "Acho-os tão avassaladores, interessantes e premonitórios como sempre. Até o final, ele questionou. Ele era um visionário. É por isso que somos todos um pouco órfãos agora que ele se foi.". 

Isabelle Huppert em 'Sauve qui peut (la vie), filme de 1980 que marcou o retorno de Godard ao circuito comercial e de festivais. O próprio Godard o definiu como sendo o seu 'segundo primeiro filme', pois o mesmo dá início a uma nova fase da sua carreira.

Julie Delpy, por sua vez, que trabalhou em três obras de Godard ('Détective', 'King Lear' e 'Histoire (s) du cinéma'), publicou dois textos sobre a partida de Godard em sua conta no Instagram, que reproduzo abaixo. No primeiro texto, ela afirmou o seguinte:

"Adeus Godard. Visionário, inventor do cinema! Sentiremos sua falta para sempre! Jean-Luc me deu meu primeiro papel em um longa-metragem. Primeira vez que alguém acreditou em mim neste negócio. Não me disse que eu era muito tímida, não sexy o suficiente, não boa o suficiente, não faminta o suficiente. Ele escreveu algo para mim que ele nunca enviou, mas foi publicado mais tarde. Algo que nunca esqueci. Seu cinema me fez querer ser quem sou hoje.".

E depois, em um texto mais longo, Julie Delpy disse o seguinte:

"Até o final, Godard foi pouco convencional e quebrou as regras.

Ele disse foda-se a narrativa linear, inventou cortes de salto e inspirou gerações de cineastas. Ele nos deixou sob seu próprio mandato, mesmo decidindo como sua vida iria terminar. Não o destino, mas sua decisão de encerrar sua incrível jornada inesquecível como o cineasta mais singular da história. Tive a sorte de trabalhar com ele 3 vezes.

Quando o conheci aos 14 anos, eu tinha visto a maioria de seus filmes, pois ele era o cineasta favorito do meu pai e se tornou meu também. Le Mépris, Bande apart, A Bout de Souffle, Pierrot le Fou, Une Femme est une Femme, Le Petit Soldat, Prenom Carmen! 

Tantas obras-primas! 

Julie Delpy em 'Détective' (1985). Esta foi a estreia de Julie Delpy no cinema, quando ainda tinha apenas 14 anos. Ela voltou a trabalhar em um filme de Godard, que foi o 'King Lear' (1987) e, depois, no 'Histoire (s) du cinéma'.

E novamente, como nenhum outro filme! Para mim, ele estava à beira do cinema e da filosofia.

Ele era um verdadeiro visionário.

Quando trabalhei em “Histoire du Cinema” em 1986, ele me disse algo sobre o futuro do cinema. Antes de tudo, estávamos filmando em vídeo, não em filme, o que na época eu achava profano. Mas ele me disse “este é o caminho do futuro, o celuloide desaparecerá”.

Em seguida, ele falou sobre o fato de que, eventualmente, a lacuna entre cinema e entretenimento seria cada vez maior e haveria entretenimento massivo de todos os tipos e formatos e pequenos filmes de autor com praticamente nada no meio.

Na época, eu pensei que ele era um pouco louco (e talvez fosse, graças a Deus!), mas na verdade ele estava certo. Ele sempre disse que a TV e principalmente os jornalistas mataram Truffaut e Langlois, Jean-Luc não queria ser morto pela “nova onda” de entretenimento e mídia, então ele dirigiu seu próprio final.

Que saída dignificante magistral! 

Obrigado Jean-Luc.".

Maruschka Detmers em 'Prénom Carmen' (1983). A jovem de 20 anos e belíssima holandesa teve aqui a sua estreia no cinema, substituindo Isabelle Adjani, que discordou dos métodos de filmagem do cineasta e não aceitou participar do filme.

A atriz holandesa Maruschka Detmers, que estreou no cinema aos 20 anos atuando 'Prénom Carmen' (1983), filme que conquistou o Leão de Ouro no Festival de Veneza de 1983, publicou, em sua página no Facebook, um breve e elogioso comentário sobre Godard:

"Obrigado Jean-Luc, por dares o teu génio ao cinema.
E, mais pessoalmente: Obrigado Jean-Luc,
Eu devo a você minha carreira
Tenha uma viagem segura.
Maruschka".

E a atriz francesa Héloise Godet, que trabalhou com Godard em 'Adieu au Langage' (2014), escreveu um texto sobre a partida de Godard, que foi publicado pelo site 'Indiewire'. 

No texto, Héloise fala de como foi trabalhar com o cineasta, dizendo que ele se utilizou de pinturas abstratas para que ela e Kamel Abdelli pudessem interpretar os seus personagens. Héloise também diz que os métodos de trabalho de Godard eram únicos, dizendo o seguinte:

"Ele sabia para onde estava indo, mas estava intencionalmente nos deixando em algum tipo de neblina impressionista. Godard estava compondo sua pintura e os corpos dos atores eram como uma cor entre outras em uma narrativa experimental.". 

Héloise termina o seu texto dizendo 'Descanse em paz, Jean-Luc Godard'.

Faço minhas as palavras dela. 

Obrigado por tudo, Grande Mestre Jean-Luc Godard.

Héloise Godet em 'Adeus à Linguagem' (2014). Ela disse que adorou trabalhar com Godard e fez um trabalho de divulgação do filme pelo mundo afora, inclusive ela veio ao Brasil para divulgar o filme.

Links:

Juliette Binoche lamenta morte de Godard:

https://www.instagram.com/p/CifUUM3Nt3u/

Entrevista de Isabelle Huppert:

https://variety.com/2022/film/news/isabelle-huppert-appreciation-jean-luc-godard-dies-1235372330/

Julie Delpy comenta o falecimento de Godard:

https://www.instagram.com/p/Cico3ULLR1J/

https://www.instagram.com/p/CihLpbCrxZ5/

Maruschka Detmers:

https://www.facebook.com/maruschka.detmers

Héloise Godet:

https://www.indiewire.com/2022/09/jean-luc-godard-goodbye-to-language-star-1234762332/

Matéria do 'Jornal Nacional' sobre a morte de Godard:

https://www.youtube.com/watch?v=MBadSBXStbY&t=75s

Entrevista com Isabelle Huppert sobre seu trabalho com Godard:


 Héloise Godet fala sobre sua participação em 'Adeus à Linguagem':


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