Isabelle Huppert, Juliette Binoche, Julie Delpy, Maruschka Detmers e Héloise Godet lamentam a partida de Godard!
Isabelle Huppert, Juliette Binoche, Julie Delpy, Maruschka Detmers e Héloise Godet lamentam a partida de Godard! - Marcos Doniseti!
Durante a sua longa carreira o grande Jean-Luc Godard revelou inúmeras atrizes que construíram carreiras vitoriosas posteriormente ou então trabalhou com elas quando ainda eram muito jovens ou desconhecidas.
A mais famosa de todas é, sem dúvida, a sua grande musa dos anos 60, do período da Nouvelle Vague, a dinamarquesa Anna Karina, que iniciou a sua carreira de atriz com Godard.
Antes, na Dinamarca, Anna Karina era modelo, seguindo para a França depois com o objetivo de dar continuidade a essa carreira, quando foi convidada por Godard para, inicialmente, atuar em um pequeno papel de 'A Bout de Souffle' (1959), o que ela recusou.
Depois, Anna Karina foi convidada por Godard para atuar em 'Le Petit Soldat' (1960) e acabou aceitando. Foi durante as filmagens que eles iniciaram o seu relacionamento, casando-se pouco tempo depois. O casamento durou até dezembro de 1964, quando se divorciaram, embora tenham trabalhado juntos em mais três longas-metragens depois disso.
Juntos, Godard e Anna Karina fizeram sete longas-metragens, que estão todos entre os mais relevantes da carreira de Godard, que são: Le Petit Soldat (1960), Une Femme est Une Femme (1961), Vivre sa vie (1962), Bande à Part (1964), Alphaville (1965), Pierrot le fou (1965), Made in USA (1966).
Depois, Godard também trabalhou com Anne Wiazemsky, o que começou em 'A Chinesa' (1967), 'Weekend' (1967) e continuou em outros filmes, como o 'One Plus One'/'Sympathy for the Devil' (1968), 'Vento do Leste' (1970), Lutas Ideológicas na Itália' (1970), 'Vladimir e Rosa' (1971) e 'Tudo Vai Bem' (1972).
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Uma jovem Juliette Binoche atuou em 'Je Vous Salue, Marie' (1985), filme de Godard que gerou muita polêmica mundo afora. Muitas pessoas que o atacaram mal se deram ao trabalho de assistir ao filme. |
Juliette Binoche também foi uma jovem atriz (tinha apenas 20 anos) que trabalhou com Godard, sendo uma coadjuvante no filme 'Je Vous Salue, Marie' (1985), que foi o seu segundo filme para cinema. A respeito do falecimento de Godard, ela publicou o seguinte texto em sua conta no Instagram:
"Jean-Luc Godard tinha 55 anos quando filmamos "Je Vous Salue, Marie", eu tinha 20. Eu estava muito feliz e às vezes tão infeliz, 5 ou 6 pessoas para filmar em Vevey, em sua fortaleza guardada. Alguns meses em um hotel esperando por sua inspiração. Aprendi com você que o cinema é ir contra, contra as convenções, contra o que parece bondade. Contra todas as probabilidades. Ciao ciao Maestro ✨".
Isabelle Huppert, que trabalhou com Godard em dois filmes ('Sauve qui peut la vie', de 1980, e 'Passion', de 1982) também lamentou o seu falecimento.
Em entrevista para a 'Variety', entre outros comentários, ela disse o seguinte: "Como qualquer grande artista, ele era político na maneira como fazia filmes. Ele interrompeu a narração, a forma linear da narrativa tradicional, a edição. A forma de seus filmes era tão ousada e inovadora que era política. E é por isso que ele se tornou Jean-Luc Godard."
Isabelle Huppert também comentou sobre os últimos filmes de Godard, afirmando o seguinte: "Acho-os tão avassaladores, interessantes e premonitórios como sempre. Até o final, ele questionou. Ele era um visionário. É por isso que somos todos um pouco órfãos agora que ele se foi.".
Julie Delpy, por sua vez, que trabalhou em três obras de Godard ('Détective', 'King Lear' e 'Histoire (s) du cinéma'), publicou dois textos sobre a partida de Godard em sua conta no Instagram, que reproduzo abaixo. No primeiro texto, ela afirmou o seguinte:
"Adeus Godard. Visionário, inventor do cinema! Sentiremos sua falta para sempre! Jean-Luc me deu meu primeiro papel em um longa-metragem. Primeira vez que alguém acreditou em mim neste negócio. Não me disse que eu era muito tímida, não sexy o suficiente, não boa o suficiente, não faminta o suficiente. Ele escreveu algo para mim que ele nunca enviou, mas foi publicado mais tarde. Algo que nunca esqueci. Seu cinema me fez querer ser quem sou hoje.".
E depois, em um texto mais longo, Julie Delpy disse o seguinte:
"Até o final, Godard foi pouco convencional e quebrou as regras.
Ele disse foda-se a narrativa linear, inventou cortes de salto e inspirou gerações de cineastas. Ele nos deixou sob seu próprio mandato, mesmo decidindo como sua vida iria terminar. Não o destino, mas sua decisão de encerrar sua incrível jornada inesquecível como o cineasta mais singular da história. Tive a sorte de trabalhar com ele 3 vezes.
Quando o conheci aos 14 anos, eu tinha visto a maioria de seus filmes, pois ele era o cineasta favorito do meu pai e se tornou meu também. Le Mépris, Bande apart, A Bout de Souffle, Pierrot le Fou, Une Femme est une Femme, Le Petit Soldat, Prenom Carmen!
Tantas obras-primas!
E novamente, como nenhum outro filme! Para mim, ele estava à beira do cinema e da filosofia.
Ele era um verdadeiro visionário.
Quando trabalhei em “Histoire du Cinema” em 1986, ele me disse algo sobre o futuro do cinema. Antes de tudo, estávamos filmando em vídeo, não em filme, o que na época eu achava profano. Mas ele me disse “este é o caminho do futuro, o celuloide desaparecerá”.
Em seguida, ele falou sobre o fato de que, eventualmente, a lacuna entre cinema e entretenimento seria cada vez maior e haveria entretenimento massivo de todos os tipos e formatos e pequenos filmes de autor com praticamente nada no meio.
Na época, eu pensei que ele era um pouco louco (e talvez fosse, graças a Deus!), mas na verdade ele estava certo. Ele sempre disse que a TV e principalmente os jornalistas mataram Truffaut e Langlois, Jean-Luc não queria ser morto pela “nova onda” de entretenimento e mídia, então ele dirigiu seu próprio final.
Que saída dignificante magistral!
Obrigado Jean-Luc.".
A atriz holandesa Maruschka Detmers, que estreou no cinema aos 20 anos atuando 'Prénom Carmen' (1983), filme que conquistou o Leão de Ouro no Festival de Veneza de 1983, publicou, em sua página no Facebook, um breve e elogioso comentário sobre Godard:
"Obrigado Jean-Luc, por dares o teu génio ao cinema.
E, mais pessoalmente: Obrigado Jean-Luc,
Eu devo a você minha carreira
Tenha uma viagem segura.
Maruschka".
E a atriz francesa Héloise Godet, que trabalhou com Godard em 'Adieu au Langage' (2014), escreveu um texto sobre a partida de Godard, que foi publicado pelo site 'Indiewire'.
No texto, Héloise fala de como foi trabalhar com o cineasta, dizendo que ele se utilizou de pinturas abstratas para que ela e Kamel Abdelli pudessem interpretar os seus personagens. Héloise também diz que os métodos de trabalho de Godard eram únicos, dizendo o seguinte:
"Ele sabia para onde estava indo, mas estava intencionalmente nos deixando em algum tipo de neblina impressionista. Godard estava compondo sua pintura e os corpos dos atores eram como uma cor entre outras em uma narrativa experimental.".
Héloise termina o seu texto dizendo 'Descanse em paz, Jean-Luc Godard'.
Faço minhas as palavras dela.
Obrigado por tudo, Grande Mestre Jean-Luc Godard.
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Héloise Godet em 'Adeus à Linguagem' (2014). Ela disse que adorou trabalhar com Godard e fez um trabalho de divulgação do filme pelo mundo afora, inclusive ela veio ao Brasil para divulgar o filme. |
Links:
Juliette Binoche lamenta morte de Godard:
https://www.instagram.com/p/CifUUM3Nt3u/
Entrevista de Isabelle Huppert:
https://variety.com/2022/film/news/isabelle-huppert-appreciation-jean-luc-godard-dies-1235372330/
Julie Delpy comenta o falecimento de Godard:
https://www.instagram.com/p/Cico3ULLR1J/
https://www.instagram.com/p/CihLpbCrxZ5/
Maruschka Detmers:
https://www.facebook.com/maruschka.detmers
Héloise Godet:
https://www.indiewire.com/2022/09/jean-luc-godard-goodbye-to-language-star-1234762332/
Matéria do 'Jornal Nacional' sobre a morte de Godard:
https://www.youtube.com/watch?v=MBadSBXStbY&t=75s
Entrevista com Isabelle Huppert sobre seu trabalho com Godard:
Héloise Godet fala sobre sua participação em 'Adeus à Linguagem':
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