Quando tudo já estava conectado: Godard, os Stones, 'Mestre e Margarida', 'Sympathy for the Devil', 'Candomblé', Maio de 68, 'Beggar's Banquet' e 'Um Ano Depois'!
Quando tudo já estava conectado: Godard, os Stones, 'Mestre e Margarida', 'Sympathy for the Devil', 'Candomblé', Maio de 68, 'Beggar's Banquet' e 'Um Ano Depois'! - Marcos Doniseti!
'Sympathy for the Devil' - Música, Filme, Protestos e Livro!
'Beggar's Banquet' foi o sétimo álbum de estúdio dos The Rolling Stones e se tornou um dos grandes discos da carreira gloriosa do grupo.
Ele foi lançado há exatos 54 anos, em 06 de Dezembro de 1968, tornando-se um clássico dos Stones, contendo músicas que possuem uma levada mais puxada para o Blues e para ritmos de origem africana, depois do álbum anterior, que foi o 'Their Satanic Majesties Request', que foi mais experimental e psicodélico e que não fez sucesso.
'Beggar's Banquet', por sua vez, vendeu mais 1 milhão de cópias apenas nos EUA, conquistando disco de platina e, em 2003, a revista 'Rolling Stone' o classificou como o número 57 na lista de 500 melhores álbuns da história.
E uma das músicas mais icônicas do álbum é 'Sympathy for the Devil'. A letra da canção é baseada no livro 'O Mestre e Margarida', de Mikhail Bulgákov, cuja história se desenvolve na URSS da época de Stalin, que foi indicado para Mick Jagger pela sua então namorada, a jovem, bela e culta Marianne Faithfull.
E o processo de criação do arranjo da música 'Sympathy for the Devil' foi inteiramente mostrado por Godard em seu filme de 1968 ('One Plus One'/'Sympathy for the Devil'), o que era algo inédito até aquele momento na história do Rock.
Godard captou os Stones no exato instante em que começou o auge criativo do grupo e que, nos anos seguintes, lançou os melhores álbuns de sua carreira, que foram o próprio 'Beggar's Banquet' (1968), que foi seguido por 'Let it Bleed' (1969), 'Sticky Fingers' (1971) e 'Exile on Main Street' (1972).
Godard também mostra em seu filme, e somente com imagens, que os Stones e o Rock estavam se tornando um grande negócio, envolvendo muitas pessoas (executivos, empresários, agentes, produtores, amigos), além de milhões de fãs e, é claro, muito dinheiro.
Assim, Godard mostra que a gravação da música e do álbum foi feita em um grande estúdio, cujo aluguel não é barato, e durou vários meses. Se fosse um filme, o processo de criação e gravação do álbum seria como uma grande produção de Hollywood.
Também foi nesse período que os Stones começaram a fazer seus Megashows, que se tornaram o padrão e o modelo para os outros grandes nomes do Rock e da Música Pop nas décadas seguintes (Led Zeppelin, Pink Floyd, U2, Michael Jackson, Madonna, Coldplay...).
Percebe-se, claramente, nas filmagens, que inicialmente o arranjo da música tinha uma levada mais folk e acústica, mas que depois os integrantes do grupo foram experimentando outras versões, até que chegaram naquela que se tornou a versão final.
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'O Mestre e Margarida', de Mikhail Bulgákov, foi o livro que inspirou Mick Jagger a compor 'Sympathy for the Devil'. |
Essa versão se tornou um grande clássico, bem como um dos maiores sucessos na carreira do grupo, com a música sendo tocada em praticamente todos os seus shows.
Os integrantes dos Stones também confirmaram, em entrevistas, que o arranjo da canção foi inspirado nos ritmos da música de origem africana, no samba e no candomblé, pois eles visitaram o Brasil em Janeiro de 1968 e frequentaram alguns terreiros na Bahia e no estado de São Paulo (em Matão, onde ficaram hospedados na fazenda de Walter Moreira Salles) e gostaram muito do ritmo das músicas tocadas neles.
Em entrevista para a revista Manchete, de janeiro de 1969, Mick Jagger disse o seguinte: "Passamos lá [Bahia] um tempão. Todas as noites ficávamos até o nascer do sol tocando música brasileira, principalmente com tambores. Gente genial, aquela".
As filmagens foram feitas, por Godard, na época das manifestações do Maio de 68 que aconteciam na França e que resultaram em uma Greve Geral que paralisou totalmente o país por 3 semanas seguidas.
A atriz Anne Wiazemsky, que foi casada com Godard entre 1967 e 1972, conta a história das filmagens em seu livro, 'Um Ano Depois', que foi traduzido e lançado no Brasil.
Outra canção icônica - Street Fighting Man!
Além de 'Sympathy for the Devil', outros destaques do álbum são 'Street Fighting Man' e 'Salt of the Earth', que é outra bela música do álbum.
A letra de 'Street Fightingh Man', escrita por Jagger, se inspirou nos acontecimentos de uma manifestação contra a Guerra do Vietnã que aconteceu em Londres, em frente à embaixada dos EUA, e que foi violentamente reprimida pela Polícia.
Mick Jagger participou dessa manifestação e ficou indignado com toda a violência policial que foi usada contra os manifestantes, o que o levou a compor 'Street Fighting Man' (Homem que Luta nas Ruas).
A história dessa manifestação é contada por Tariq Ali em seu livro 'O poder das Barricadas', que trata dos acontecimentos de 1968 nos quais ele esteve envolvido. E a letra de Jagger refere-se a Tariq Ali, que é o 'Homem que Luta nas Ruas' da canção.
E tal como aconteceu com 'Sympathy for the Devil', a fantástica 'Street Fighting Man' também se tornou uma das grandes canções da história do grupo e do Rock, sendo que a sua execução nos shows do grupo também tornou-se praticamente obrigatória.
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'Um Ano Depois': O livro de Anne Wiazemsky conta a história sobre a realização do filme 'One Plus One'/'Sympathy for the Devil'. |
Links:
'Beggar's Banquet' na íntegra:
https://www.youtube.com/watch?v=t4Dx5ixs8MI
'Beggar's Banquet' e 'Sympathy for the Devil' - Origens da música:
https://whiplash.net/materias/biografias/301469-rollingstones.html
Discografia dos Stones:
https://en.wikipedia.org/wiki/The_Rolling_Stones_discography
Massacre de Tlatelolco:
http://latinoamericana.wiki.br/verbetes/t/tlatelolco-massacre-de
Passeata dos Cem Mil, no RJ (Documentário):
https://www.youtube.com/watch?v=90Ylj-RE7ZU
O Maio de 68 na França:
https://super.abril.com.br/mundo-estranho/o-que-foi-o-movimento-de-maio-de-68-na-franca/
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