Luis Buñuel: O almoço que fez justiça a um gênio do Cinema e gerou uma fotografia antológica!
Luis Buñuel: O almoço que fez justiça a um gênio do Cinema e gerou uma fotografia antológica! - Marcos Doniseti!
Neste domingo (17/01) publiquei aqui um texto no qual comentei os 6 filmes do grande Luis Buñuel que o Telecine Cult exibiu, ontem, e ilustrei o mesmo com uma fotografia antológica, reunindo Luis Buñuel e outros grandes nomes do cinema mundial: Hitchcock, Cukor, Wilder, Wyler, Stevens...
Bem, essa foto tem uma história, é claro, que é a seguinte:
Em 1972, Luis Buñuel lançou o clássico 'O Discreto Charme da Burguesia', que conquistou, merecidamente, o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 1973.
E naquele mesmo ano de 1972, Buñuel foi até Los Angeles para o lançamento do filme, o que ocorreu no Festival de Cinema da cidade.
Um dos principais cineastas de Hollywood, George Cukor, ao ficar sabendo da presença de Buñuel de Los Angeles, o convidou para um almoço em sua homenagem, em sua residência, e do qual participariam, também, alguns 'velhos amigos' de Cukor, tal como este disse para Buñuel. O convite deixou Buñuel surpreso, pois eles não se conheciam.
Buñuel aceitou o convite e quando chegou o dia do almoço ele foi acompanhado de Jean-Claude Carriere, roteirista de 'O Discreto Charme da Burguesia', e do produtor de seus filmes, Serge Silberman. Nenhum dos três fazia a menor ideia de quem seriam os tais 'velhos amigos' de Cukor que compareceriam ao almoço.
Porém, Carriere teve o bom sendo de levar um fotógrafo junto, pois talvez ele já desconfiasse que algo especial iria acontecer naquele almoço, como acabou acontecendo, de fato.
E qual não foi a surpresa do cineasta espanhol, de Carriere e Silberman ao constatar quem eram os tais 'velhos amigos' de Cukor, que foram chegando aos poucos para o almoço: John Ford, Alfred Hitchcock, Billy Wilder, William Wyler, Robert Wise, George Stevens, Robert Mulligan e Rouben Mamoulian.
Quer dizer: Grande parte da história do Cinema e da própria Hollywood estava ali para almoçar e, claro, conversar com o grande gênio espanhol, o que não deixa de ser, sem dúvida alguma, uma forma de homenagem e reconhecimento para o grande cineasta surrealista.
Afinal, que outro cineasta teria essa honra, de ter uma grande parte da história do Cinema fazendo questão de almoçar com ele, não é mesmo?
John Ford, que se encontrava bastante doente na época, mal conseguia andar e teve que ser carregado para chegar e para ir embora do almoço. Inclusive, ele faleceu poucos meses depois. Ford não aparece na foto porque foi embora mais cedo, devido à sua saúde debilitada.
Aliás, observando a fotografia é possível ver que há um espaço livre entre Carriere e Silberman, que era uma forma de mostrar que faltava John Ford na mesma. E Buñuel diz que ficou surpreso ao ver Ford presente ao almoço, pois não tinha a menor ideia de que o grande cineasta conhecesse a sua obra.
Ford chegou logo depois de Buñuel, Carriere, Silberman e do fotógrafo. E não muito tempo depois chegou outro gigante do Cinema, Alfred Hitchcock, sorridente e de braços abertos para Buñuel. Neste caso, a surpresa de Buñuel talvez não tenha sido tão grande, pois o consagrado cineasta britânico já o havia elogiado em vários momentos e de forma pública.
E o grande Hitchcock fez questão de se sentar bem ao lado de Buñuel durante o almoço e ficou conversando com o mesmo sobre alguns filmes do cineasta espanhol, principalmente sobre 'Tristana', de 1970. Hitchcock ficava brincando com Buñuel, falando 'ah, aquela perna amputada... ah, aquela perna amputada'...
E depois do mestre Hitchcock, foram chegando os outros: William Wyler, Billy Wilder, George Stevens, Rouben Mamoulian, Robert Wise e Robert Mulligan.
'Meu Último Suspiro', autobiografia de Luis Buñuel, escrita com a colaboração do roteirista Jean-Claude Carriere. |
Em sua autobiografia ('Meu Último Suspiro') Bunuel diz o seguinte:
"Em minha homenagem realizava-se uma estranha reunião de fantasmas que nunca haviam se reunido antes, todos falando dos ‘good old days’, os bons e velhos tempos. De ‘Ben Hur’ a ‘Amor, Sublime Amor’, de ‘Quanto Mais Quente Melhor’ a ‘Interlúdio’, de ‘No Tempo das Diligências’ a ‘Assim Caminha a Humanidade’, quantos filmes ao redor daquela mesa…".
Bem, coincidência ou não, em 1973 o filme de Buñuel conquistou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. E como todos sabem, os cineastas e profissionais de cinema de Hollywood são aqueles que votam nos melhores filmes, atores, atrizes, roteiristas, entre outros, escolhendo os vencedores.
Assim, não é de se duvidar que o filme de Buñuel, que é um clássico, sem dúvida, tenha conquistado o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro muito em função deste almoço. Os 'velhos amigos' de Cukor talvez tenham influenciado a Meca do Cinema a premiar o grande e genial cineasta espanhol, cuja obra cinematográfica é absolutamente brilhante e de caráter único.
Afinal, Buñuel já tinha realizado várias obras-primas ('Viridiana', 'O Anjo Exterminador', 'Belle de Jour') e nunca havia sido premiado com nenhum Oscar. Porém, depois deste almoço, essa história mudou e Buñuel conquistou, com bastante atraso, na verdade, e de forma mais do que merecida, sem dúvida alguma, o seu Oscar.
Links:
O histórico almoço na residência de George Cukor:
Uma estranha reunião de fantasmas – Scream & Yell
Comentários
Postar um comentário