'A Chinesa', de Godard, e as insurreições estudantis nos EUA!
'A Chinesa', de Godard, e as insurreições estudantis nos EUA! - Marcos Doniseti!
Em abril e maio de 1970, Godard e Gorin fizeram inúmeras palestras remuneradas em universidades dos EUA. O objetivo deles era conseguir recursos para financiar um novo filme, que seria feito em apoio à causa dos Palestinos (que é um povo árabe e, logo, possui origem semita). O filme iria se chamar 'Até a Vitória'.
Godard e Gorin chegaram a ir até a Jordânia, Síria e Líbano, onde filmaram cerca de 10 horas de material. Porém, um massacre foi promovido pelo governo da Jordânia, o que resultou, segundo Yasser Arafat, na morte de cerca de 20 mil palestinos que viviam no país.
Com isso, o filme não teve como ser finalizado. Até porque os campos de refugiados, na Jordânia, nos quais quase todas as filmagens foram realizadas, foram arrasados pelo governo do país, que a partir de então tornou-se um aliado dos EUA e de Israel. E a maioria das pessoas que aparece nestas filmagens, feitas por Godard e Gorin, foram assassinadas.
E na época destas palestras, feitas por Godard e Gorin na terra do Tio Sam, os estudantes e o movimento estudantil dos EUA estavam vivendo um período de grande ebulição, promovendo insurreições em inúmeras universidades do país, chegando até a ocupar as mesmas.
E o mais interessante é que, em várias oportunidades, essas mobilizações estudantis começaram logo depois que o filme 'La Chinoise' (A Chinesa, 1967) era exibido.
É evidente que o filme de Godard não era a causa primordial destas mobilizações dos estudantes, mas não resta a menor dúvida de que 'La Chinoise' colocava um pouco mais de lenha na fogueira da insatisfação dos estudantes, servindo como o estopim para que elas acontecessem.
Afinal, não era isso que a personagem Véronique (interpretada por Anne Wiazemsky) defendia naquele famoso diálogo com o intelectual Francis Jeanson?
A repressão policial violenta promovida contra os estudantes acirrava ainda os ânimos dos jovens. |
Esta insatisfação existia em função de inúmeros fatores:
- choque com a cultura e os valores dominantes na sociedade (excessivamente conservadores e o autoritários);
- a postura autoritária dos gestores das universidades;
- a violenta repressão policial contra os estudantes, que resultou no assassinato de 4 deles na Universidade Estadual de Kent (Ohio);
- a recusa em prestar serviço militar e ser convocado para a Guerra do Vietnã.
Porém, é inegável que Godard demonstrou claramente, por meio de 'La Chinoise' (1967), que ele estava conectado com o zeitgeist daquele período da história.
E sempre que Godard ficava sabendo da conexão existente entre 'La Chinoise' e as insurreições estudantis, ele ficava exultante, é claro.
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