Godard comenta sobre sua paixão por esportes e explica de que maneira filmaria as partidas (de tênis, futebol...)!
Godard comenta sobre sua paixão por esportes e explica de que maneira filmaria as partidas (de tênis, futebol...)! - Marcos Doniseti!
Godard jogando tênis na quadra de um hotel durante o Festival de Veneza de 1983, quando conquistou o Leão de Ouro com o belo filme 'Prénom Carmen' (1983).
Um sujeito escreveu no Twitter que o Godard seria do tipo que pensava que 'o futebol é o ópio do povo'.
Nada mais errado do que isso.
Na verdade, Godard amava esportes.
Ele jogou futebol e praticou esqui na juventude, bem como natação, basquete e atletismo. E também passou a jogar tênis com muita frequência depois que chegou aos 50 anos. No filme 'JLG/JLG - Autoretrato de Dezembro" vemos cenas dele jogando uma partida de tênis.
Vários filmes dele também possuem referências ou sequências ligadas ao esporte. 'Une Femme est Une Femme' (1961), 'Numéro Deux' (1975), 'Sauve qui peut (la vie': 1980), 'Soigne ta droite' (1987) e 'JLG/JLG - Autoretrato de Dezembro' (1993) são alguns deles.
Em um curta metragem ("L'Enfance de l'art", 1992), que foi dirigido por Godard e Anne-Marie Miéville, vemos uma sequência na qual um grupo de crianças joga bola em meio às ruínas provocadas por uma guerra, que ainda não terminou, o que remete à infância do próprio Godard, que jogou muito futebol em sua infância (ele jogava de goleiro), na Suíça, durante a Segunda Guerra Mundial.
Godard também gostava de assistir as partidas de tênis em Roland Garros, sendo que foi fotografado várias vezes ali, junto com o produtor e amigo Alain Sarde.
Em uma entrevista concedida ao jornal francês, de esportes "L'Équipe", Godard falou o seguinte:
"Era para eu fazer um filme sobre os Jogos de Los Angeles em 1984, com [Francis Ford] Coppola, mas as negociações não deram certo"... Também conversei com o Canal +, mas eles não quiseram.".
Godard também refletiu sobre como as partidas de tênis são exibidas na TV:
"O que é triste é que todas as partidas são filmadas da mesma maneira. A primeira rodada, como a última... É o reino do sempre o mesmo. É irritante ver as mesmas cenas repetidas vezes. A do jogador que espera, a do jogador que saca. Em vez de me obrigar a ir para o outro lado da rede, preferiria ficar um pouco com um jogador [...] Entre pubs e retransmissões, apresentações e ao vivo, cada vez há menos diferença. Tudo parece igual. A clonagem está aí.".
E Godard também disse, na entrevista ao "L'Équipe", que quando assistia televisão ele preferia assistir esportes. E justificou dizendo o seguinte:
"Porque o corpo não mente. Os campeões podem estar cobertos de dinheiro, terrivelmente mal filmados, mas eles são eles mesmos. Sotomayor não pode dizer: “Eu pulei 2,31” se ele pulou apenas 2,30m. É impossível, ninguém vai acreditar. Até Tapie, quando perdia num estádio de futebol, não podia dizer: "Ganhei", enquanto em outras áreas, mesmo um ministro, podia dizer qualquer coisa. A política, o cinema, a literatura mentem, não o esporte.".
Sobre a maneira como ele mostraria uma partida de tênis, Godard disse o seguinte para o "L'Équipe":
"A ficção pode contar a história, mas não pode explicá-la. Seria necessário filmar não só o campeão, o jogo, mas também a véspera, a noite seguinte, a namorada, a família… Filmar o desporto equivale a mostrar o trabalho do corpo em continuidade. O problema é que essa prioridade desapareceu.".
"Para mim, cada jogo é diferente. Auxerre X Sedan não é a mesma coisa que Dynamo de Moscou X Juventus de Turim! Não é a mesma história, então não deveria ser filmado da mesma maneira.".
Essa visão, totalmente diferente e particular, de como os esportes deveriam ser exibidos na TV, talvez explique porque Godard nunca foi convidado para fazer um filme sobre esportes para nenhum canal de TV.
E isso aconteceu apesar dele colaborar com frequência com vários canais de TV, tendo dirigido (sozinho ou com Anne-Marie Miéville) vários filmes que foram financiados e exibidos pelos mesmos.
Link:
https://www.24heures.ch/jean-luc-godard-une-idee-decalee-du-sport-966539315152
Para ele o "L'Équipe" era tão importante quando o 'Le Monde':
Curta metragem "L'Enfance de l'art" (1992):
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